MANLIO DINUCCI
GUERRA NUCLEAR
O PRIMEIRO DIA
De Hiroshima até hoje:
Quem e como nos conduzem à catástrofe
7.3 A B61-12, a nova bomba nuclear USA para a Itália e para a Europa
A nova bomba nuclear B61-12
que, segundo o programa do Pentágono, em 2020, substitui a B61 instalada em
Itália e noutros países europeus, não é uma simples versão modernizada da
precedente. É uma nova arma nuclear polivalente, que substitui no arsenal nuclear USA, as
bombas B61-3, -4-, -7, -10.
A B61-12 tem uma ogiva nuclear
com quatro opções de potência seleccionáveis. No momento do lançamento, é
escolhida a potência da explosão nuclear segundo o objectivo a atingir: por
exemplo, a potência máxima, para destruir completamente uma cidade, tornando
uma vasta área radioactiva; a potência mínima, para destruir apenas uma zona,
provocando uma radioactividade menor.
A B61-12 também tem a
capacidade de penetrar no sub-solo e de atravessar cimento armado, explodindo em
profundidade, para destruir os bunkers dos centros de comando e outras
estruturas subterrâneas e, assim «decapitar» o país inimigo num first strike nuclear. De maneira diferente
da B61, lançada na vertical sobre o objectivo, a B61-12 é lançada à distância
e, através do kit da cauda, dirige-se para o objectivo guiada por um sistema
via satélite.
O perigo desta nova arma,
fruto da «modernização» das forças nucleares americanas, é evidenciado pelo
General James Cartwright, já na chefia do Comando Estratégico dos Estados
Unidos, responsável pelas armas nucleares: «A modernização poderia mudar o modo
como os comandos militares valorizam os riscos que derivam do uso das armas
nucleares». Por outras palavras, Cartwright e outros peritos advertem que, «as
armas nucleares de menor potência e de maior precisão, aumentam a tentação de
usá-las, mesmo em primeiro lugar, em vez de usá-las apenas como represália».
Esta afirmação é confirmada
pela FAS, Federação dos Cientistas Americanos: «A alta precisão e a possibilidade de usar ogivas menos
destrutivas podem levar os comandantes militares a pressionar o botão porque,
num ataque, se usarem a bomba nuclear, saberiam que a queda radioactiva
(fallout) e o dano colateral seria limitado».
O programa do Pentágono prevê
a construção de 500 bombas B61-12, com um custo estimado em 10 biliões de
dólares (cada bomba chega a custar o
dobro de quanto custaria se fosse construída completamente em ouro). Os múltiplos
componentes da B61-12 são projectados e testados nos laboratórios nacionais de
Los Alamos e Albuquerque (Novo México), de Livermore (Califórnia), e produzidos
em série nas fábricas no Missouri, Texas, Carolina do Sul, Tennessee. Junta-se
a estas a secção da cauda para a orientação da precisão, fornecida pela
Boeing.
Não se sabe quantas B61-12
serão instaladas na Europa e na Turquia, para substituir as B61, cujo número
efectivo foi sempre mantido em segredo. As estimativas aproximadas da FAS indicam
70 B-61 em Itália, 50 na Turquia, 20 respectivamente na Alemanha, Bélgica e Holanda. Não se pode
excluir que, dado o crescente confronto militar com a Rússia, as B61-12
destinadas à Europa não sejam mais do que as precedentes B-61.
Fotos via satélite, divulgadas
pela FAS, mostram que foram efectuados trabalhos de reestruturação para aumentar
a «segurança» das bases de Aviano e Ghedi Torre, tendo em vista a instalação
das B61-12. Foram efectuados trabalhos análogos na base aérea alemã de Buchel,
e noutras duas bases na Bélgica e na Holanda e na base turca de Incirlic.
Testes efectuados no polígono
de Nellis, no Nevada, em 2017, mostram que a B61-12 pode ser lançada de um
caça F16C/D, tipo dos que a 31sr Fighter
Wing, instalada em Aviano e de caça-bombardeiros Tornado PA-200, tipo dos
usados pelo 6º Esquadrão da Força Aérea Italiana, distribuídos em Ghedi
(Brescia). Estes aviões permitem lançar a bomba com trajectória balística. Para
orientar a bomba através do kit da cauda, são necessários aviões americanos
dotados de sistemas digitais especiais: os caças F-35 A, que a Força Aérea
Italiana também recebe e o caça F-15E; o bombadeiro B-2 Spirit e o novo bombardeiro
B-21.
Não está excluído que as
B61-12 sejam instaladas não só em Aviano e Ghedi, mas também noutras bases
USA/NATO, em território italiano. Os resultados das inspecções periódicas para
controlar como as armas nucleares são geridas, mantidas e supervisionadas são,
desde 2017, top secret: decidiu o Pentágono, declarando que desse modo «se
impede que os adversários saibam muito a respeito da vulnerabilidade das armas
nucleares USA». Na realidade, comentam os peritos da FAS, os relatórios das inspecções
até agora divulgados não tinham dados classificados. No entanto, surgiram problemas relativos à
segurança das armas nucleares e ao comportamento do pessoal ligado à gestão das
mesmas. Assim,hoje ninguém, além de um pequeno círculo no Pentágono, pode ter
conhecimento sobre o grau de segurança dos sítios, como Aviano e Ghedi Torre,
em que estão distribuídas as armas nucleares americanas. No entanto, o
objectivo fundamental da decisão do Pentágono é outro: Não dando conhecimento
onde se fazem as inspecções, eles não revelam mais, nem indirectamente, onde
estão instaladas as armas nucleares. Isto diz respeito não só às instalações em
território americano, mas, sobretudo, às dos outros países, entre os quais a
Itália.
O facto de que, nos exercícios
de guerra nuclear NATO se realizassem em Ghedi, em 2014, tivessem tomado parte,
pela primeira vez, pilotos polacos com caça-bombardeiros F-16C/D, indica com
toda a probabilidade, que as B61-12 também vão ser instaladas na Polónia e
noutros países de Leste. Caças NATO de dupla capacidade, convencional e
nuclear, são deslocados, em rotação, nas repúblicas bálticas, junto às
fronteiras da Rússia.
A seguir:
7.4 A escalada USA/NATO
na Europa
Ler este sub-capítulo e os precedentes em
Tradutora: Maria Luísa de
Vasconcellos
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