MANLIO DINUCCI
GUERRA NUCLEAR
O DIA ANTERIOR
De Hiroshima até hoje:
Quem e como nos conduzem à catástrofe
8.6 As nano-armas: potenciais detonadoras da guerra
nuclear
Depois das armas nucleares da primeira e segunda
geração (atómicas e de hidrogénio)e de terceira geração (bombas de neutrões),
começou-se a fabricar as armas da quarta geração, sempre mais pequenas, de menor
potência mas mais eficientes. A par e passo prevalece a ideia que, em
determinadas situações, se pode fazer um uso limitado sem com isso desencadear
uma guerra nuclear de grandes proporções. Um bom exemplo, é o relatório
publicado pelo Defense Science Board, a comissão dos consultores do Pentágono em Dezembro
de 2016, sobre questões técnicas e
científicas. Considera que os EUA devem ter «uma organização nuclear mais
flexível que possa tornar possível, se for necessária, uma oposição nuclear rápida,
calibrada para um uso limitado, se outras opções não-nucleares ou nucleares se
demonstrarem inadequadas». Para tal fim – sublinha o Defense Science Board –
são necessárias armas nucleares de «menor potência». A«opção nuclear rápida e
calibrada» poderia ser estabelecida não só com ogivas de «potência menor»
transportadas por mísseis ou bombardeiros, mas também com mini-engenhos
nucleares feitos explodir directamente, no interior do território inimigo.Que é possível reduzir substancialmente engenhos de fissão, é provado pelo facto de que,
durante a Guerra Fria, o Exército Americano distribui na Europa, ogivas
nucleares de peso e dimensões reduzidas, com potências variáveis de menos de um
quiloton a alguns megaton. Entre estas, a W-54 Davy Crocket, uma ogiva nuclear
oval com 23 kgs de peso e dimensões de 27 x 40 cm, com uma potência equivalente
a 10-20 toneladas de TNT, cuja primeira explosão experimental é efectuada em
1962, no Polígono de Nevada.
Apesar da sua potência fraca, em comparação com as
ogivas nucleares transportadas por mísseis ou bombardeiros, estas pequenas
armas nucleares são, de longe, mais perigosas do que as armas terrestres
convencionais, porque o seu uso tornaria vastas áreas do território europeu, em áreas radioactivas. Podem ser
empregadas quer como projécteis de artilharia, como ogivas de mísseis de curto
alcance, quer como munições portáteis de demolição atómica. Em Itália, durante
a Guerra Fria, foram instaladas pelo Exército americano (segundo estimativas
aproximadas) 120 engenhos destes como ogivas de mísseis de curto alcance (120-140 km), 55 como
projécteis de artilharia, 22 como munições de demolição atómica. Comandos das
forças especiais americanas são treinados para se infiltrarem ou serem lançados
de paraquedas no território inimigo, carregando munições de demolição atómica
para fazer detonar, não só perto de instalações militares, mas também em zonas industriais e em cidades.
Ogivas nucleares miniaturizadas, provavelmente são
construídas também na União Soviética, sempre durante a Guerra Fria. Segundo
algumas testemunhas, na situação caótica criada depois da desagregação da URSS,
perde-se o rasto de grande parte destes engenhos. Em 1997, o general russo
Aleksander Lebed ,Basedo nos resultados de um inquérito efectuado quando era
conselheiro da Segurança Nacional, do Presidente Yeltsin, declara numa
entrevista realizada em 7 de Setembro pela CBS:« Num número estimado de 250
bombas deste tipo, mais de 100 não estão sob o controlo das Forças Armadas
russas. Não se sabe onde estão, se foram destruídas ou conservadas, se foram
vendidas ou roubadas». A seguir, no dia 1 de Outubro de 1997, numa audição
perante uma comissão do Congresso americano, ele especifica que se trata de
bombas nucleares de 60 x 40 x 20 cm, que podem ser transportadas e detonadas
por uma pessoa.
Os progressos tecnológicos realizados durante o
meio século seguinte ao fabrico dos primeiros engenhos nucleares
miniaturizados, como a W-54 Davy Crocket, permitem construir ogivas nucleares,
de longe, mais pequenas e potentes.
Os maiores desenvolvimentos nesse campo destacam-se
com as aplicações militares da nanotecnologia, que consiste em manipular a
matéria ao nível de simples átomos. É algo que ainda se faz limitadamente, mas
que, de futuro, poderá revolucionar os processos industriais e conduzir a
aplicações que, neste momento, ainda são impensáveis, na Medicina e noutros
campos. Para tal, nos países tecnologicamente mais avançados, investem-se cada
vez mais, recursos na pesquisa da nanotecnologia. Sobre essas pesquisas,
concentram-se os laboratórios militares e as indústrias bélicas,
que utilizam ao mesmo tempo, os resultados das pesquisas civis para aplicações
militares. A nanotecnologia já é empregada para produzir novos explosivos
químicos, com uma potência dez vezes superior à dos convencionais, e também no
fabrico de materiais mais resistentes e ligeiros para uso bélico.
No futuro a nanotecnologia poderá tornar possível a
produção de nano-armas com componentes de dimensões inferiores a cem nanómetros.
Um Nanómetro (nm) é a unidade de medida de comprimento correspondente a um
milionésimo de milímetro. Para fazer-se ideia de tais dimensões, basta pensar
que um cabelo têm uma espessura de 70.000 nm.
«Acredito que as mais terríveis nano-armas fabricadas
dentro em pouco, sejam as mini-nukes». Escreve o físico Louis Del Monte, executivo da IBM e da Honeywell no campo da micro
electrónica – Se bem que a tecnologia específica seja mantida secreta, grande
parte da ciência que está na base dos mini-nukes é de domínio público. Por
exemplo, um lazer de alta potência podia disparar uma pequena explosão de fusão
nuclear, usando uma mistura de trítio e deutério. Com a nanotecnologia
poder-se-ia realizar laser e materiais de fusão extremamente pequenos, para
construir uma bomba que entraria facilmente no bolso de um casaco. A potência
dessa bomba estaria compreendida entre uma a cem toneladas de explosivos
convencionais».
Del Monte acredita que os mini-nukes constituiriam
«uma categoria de armas completamente nova» e que, pelas suas características
(difíceis de individualizar, grande potência, fallout relativamente reduzido),
«são provavelmente aquelas que possam tornar reais o uso deste tipo de armas
nucleares na guerra». Os países em fase mais avançada na pesquisa dos
mini-nukes e de outras nano-armas são os EUA, a Rússia, a China, Israel e a
Alemanha. Del Monte deduz «visto que os EUA iniciaram a pesquisa em 2002, é
provável que já existam mini-nukes».
É possível também que já esteja a realizar uma
«categoria inteiramente nova», a das nano-armas. As pesquisas e os testes
eventualmente efectuados são ‘top secret’. Mas, embora até agora não haja
provas, existem sérios indícios a tal respeito: por exemplo, as mortes
misteriosas provocadas, em 2006, pelos ataques israelitas em Gaza e no Líbano.
Os testemunhos dos médicos são unânimes: em dezenas de anos de trabalho em
hospitais, nunca viram nada semelhante às condições em que foram encontradas
muitas das vítimas (quase todas civis). Corpos sem feridas externas, com o
fígado e os ossos carbonizados. Corpos intactos que, no interior, apresentavam
milhares de finíssimos cortes, mas nos quais não se encontrava gravilha (lascas
de materiais). Braços e pernas atingidos por fragmentos não visíveis aos raios
X, que desvitalizam os tecidos e coagulam o sangue, provocando depois da
amputação, uma necrose rápida que se estende ao resto do corpo. A hipótese mais
fiável é que essas mortes foram provocadas por armas de um novo tipo».
No mesmo ano de 2006,é dada a notícia de que «Israel
está a usar a nanotecnologia para criar um robot não maior que um vespão, capaz
de perseguir, fotografar e matar os seus alvos» O Vice-Primeiro Ministro Shimon Peres (condecorado em 1994 com o Prémio Nobel
da Paz «pelos seus esforços para criar a Paz no Médio Oriente») declara: «A
guerra no Líbano demonstrou que temos necessidade de armas ainda mais pequenas.
Não é lógico enviar um avião cujo custo é 100 milhões de dólares contra um
terrorista suicida. Para isto, estamos a criar armas futurístas»
Estão em fase de pesquisa e desenvolvimento nos EUA,
em Israel e noutros países, mini-drones com a forma e dimensões de mosquitos, utilizáveis não só como drones espias capazes
de causar sons e imagens, mas também como drones-assassinos capazes de injectar
veneno. Propõem-se cenários de guerra que hoje parecem de ficção científica:
segundo as hipóteses científicas de Del Monte, poderiam ser realizados nano
robots que, penetrando como grandes enxames de vespas no país inimigo,
atacariam instalações militares e industriais, provocando envenenamentos em
massa e epidemias.
Os mini-nukes e os nano-robots de ataque não substituem,
mas integram as armas nucleares, as quais serão sempre, cada vez mais miniaturizadas e
eficazes. Se um país tecnologicamente superior, dotado, quer de armas nucleares,
quer de nano-armas, atacasse com estas últimas, um país tecnologicamente
inferior, mas na posse de armas nucleares se bem que menos avançadas, lançaria
uma represália nuclear e seria, por sua vez, atacado com armas nucleares.
Portanto, as nano-armas fariam de detonadores da guerra nuclear. Não é um
cenário de ficção científica, mas a realidade que está a preparar o uso, cada
vez mais frequente, da ciência para fins militares.
A seguir:
Capítulo 9
O DIA ANTERIOR, ENQUANTO ESTAMOS A TEMPO
9.1 A estratégia do Império Americano do Ocidente
Tradutora: Maria Luísa de
Vasconcellos
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