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Monday, September 24, 2018

PT -- Manlio Dinucci -- A Arte da Guerra -- A ESTRATÉGIA DA DEMONIZAÇÃO DA RÚSSIA


A Arte da Guerra

A ESTRATÉGIA DA DEMONIZAÇÃO DA RÚSSIA

Manlio Dinucci

O contrato do governo assinado em Maio de 2018, pelo Movimento 5 Stelle e pela Lega, reitera que a Itália considera os Estados Unidos como o seu “aliado privilegiado”. Laço fortalecido pelo Primeiro Ministro Conte que, no encontro com o Presidente Trump em Julho, estabeleceu com os USA “uma cooperação estratégica, quase uma geminação, em virtude da qual a Itália torna-se a interlocutora privilegiada dos Estados Unidos para os principais desafios a enfrentar”. No entanto, simultaneamente, o novo governo comprometeu-se no contrato a “uma abertura à Rússia, para ser percebida não como uma ameaça, mas como um parceiro económico" e até mesmo como um “parceiro potencial para a NATO”. É como conciliar o diabo com a água benta.


De facto, é ignorada, tanto pelo governo como pela oposição, a estratégia USA de demonização da Rússia, destinada a criar a imagem do inimigo  ameaçador contra o qual nos devemos preparar para lutar. Esta estratégia foi apresentada numa audiência no Senado (21 de Agosto), por Wess Mitchell, Sub-Secretário do Departamento de Estado para os Assuntos Europeus e Eurasiáticos: "Para enfrentar a ameaça proveniente da Rússia, a diplomacia USA deve ser apoiada por um poder militar que seja o melhor de todos  e totalmente integrado com os nossos aliados e com todos os nossos instrumentos de poder ".  # 4

Ao aumentar o orçamento militar, os Estados Unidos começaram a “recapitalizar o arsenal nuclear”, incluindo as novas bombas nucleares B61-12 que, em 2020, serão instaladas contra a Rússia, na Itália e noutros países europeus. Os Estados Unidos - especifica o Sub-Secretário - gastaram em 2015, 11 biliões de dólares (que aumentarão em mais 16, em 2019) para a “Iniciativa Europeia de Dissuasão”, ou seja, para reforçar a sua presença militar na Europa contra a Rússia.

Dentro da NATO, eles conseguiram um aumento de mais de 40 biliões de dólares, acrescido à despesa militar dos aliados europeus e estabeleceram dois novos comandos, dos quais o Comando Atlântico contra a “ameaça dos submarinos russos”, localizado nos USA.

Na Europa, os Estados Unidos apoiam, em particular, “os Estados na linha de frente”, como a Polónia e os Países Bálticos, e eliminaram as restrições para fornecer armas à Geórgia e à Ucrânia (ou seja, aos Estados que, com agressão à Ossétia do Sul e o putsch da Praça Maidan, desencadearam a escalada USA/NATO contra a Rússia). # 8.

O expoente do Departamento de Estado acusa a Rússia não só de agressão militar, mas de concretizar nos Estados Unidos e nos Estados europeus “campanhas psicológicas de massa contra a população para desestabilizar a sociedade e o governo”. Para realizar essas operações, que fazem parte do “esforço contínuo do sistema putiniano para o domínio internacional”, o Kremlin usa “o arsenal de políticas subversivas usado no passado pelos bolcheviques e pelo Estado soviético, actualizado para a era digital”. # 12. Wess Mitchell acusa a Rússia daquilo em que os USA são mestres: eles têm 17 agências federais de espionagem e subversão, entre as quais, o Departamento de Estado. O mesmo Departamento que acaba de criar uma nova figura: "o Conselheiro Senior para as Actividades Malignas da Rússia" (ou SARMAT), encarregado de desenvolver estratégias inter-regionais.  # 14 

Nesta base todas as 49 missões diplomáticas dos USA na Europa e na Eurásia devem concretizar, nos seus respectivos países, planos de acção específicos contra a influência russa. # 13.

Não sabemos qual é o plano de acção da Embaixada dos EUA na Itália. No entanto, sabê-lo-á o Primeiro Ministro Conte, na qualidade de “interlocutor privilegiado dos Estados Unidos”. Então, comunique-o ao Parlamento e ao país, antes das “actividades” da Rússia desestabilizarem a Itália.


il manifesto, 25 de Setembro de 2018




NO WAR NO NATO
https://www.pandoratv.it/category/opinioni/manlio-dinucci-opinioni/

Manlio Dinucci


Geógrafo e geopolítico. Últimos trabalhos publicados: Laboratorio di geografia, Zanichelli 2014 ; Diario di viaggio, Zanichelli 2017 ; L’arte della guerra / Annali della strategia Usa/Nato 1990-2016, Zambon 2016, Guerra Nucleare. Il Giorno Prima 2017; Diario di guerra Asterios Editores 2018
Tradutora: Maria Luísa de Vasconcellos



A. Wess Mitchell
Sub-Secretário, Departamento dos Assuntos  Europeus e Euroasiáticos
Comissão das Relações Estrangeiras do Senado
Washington, DC
 21 de Agosto de 2018
Como foi pronunciado:
1. Presidente Corker, (Ranking MemberDistinto Membro Menendez, agradeço terem-me convidado para testemunhar hoje. Se me permitirem, gostaria de começar com uma notícia bem-vinda. Não está relacionada com o testemunho desta manhã. Ontem, 20 de Agosto, o governo dos Estados Unidos transferiu para a Alemanha, Jakiw Palij, um antigo guarda de campo de concentração nazi, o conhecido campo de trabalho escravo Trawniki para judeus, na Polónia ocupada pelos nazis. Embora esse processo tenha levado muito mais tempo do que queríamos, a transferência desse indivíduo pode trazer algum conforto aos sobreviventes do Holocausto e outros que sofreram às mãos daqueles, como Palij, que executaram as ordens crueis do regime desumano do Nazismo.
2. Hoje, irei usar os meus comentários preparados para delinear de forma resumida, a estratégia abrangente dos Estados Unidos em relação à Federação Russa. A base dessa estratégia é fornecida por três documentos, conforme orientado e aprovado pelo Presidente: a Estratégia da Segurança Nacional, a Estratégia Nacional da Defesa e a Estratégia Integrada da Rússia.
3. O ponto de partida da Estratégia de Segurança Nacional é o reconhecimento de que a América entrou num período de competição de grande potência e que as políticas anteriores dos EUA não captaram suficientemente a finalidade dessa tendência emergente, nem prepararam a nossa nação adequadamente, a fim de serem bem sucedidas. O objectivo central da política externa do governo é preparar a nossa nação para enfrentar esse desafio, fortalecendo sistematicamente os fundamentos militares, económicos e políticos do poder americano.
4. A nossa política em relação à Rússia provém do reconhecimento de que, para ser eficaz, a diplomacia dos EUA deve ser apoiada por um poder militar que seja o melhor de todos e (que esteja) totalmente integrado com os nossos aliados e com todos os nossos instrumentos de poder”. Para tanto, revogamos os anos de cortes no orçamento de defesa, iniciámos o processo de recapitalização do arsenal nuclear dos EUA, solicitámos cerca de 11 biliões de dólares para a Iniciativa de Dissuasão Europeia  e trabalhámos no interior da NATO para arrecadar mais de 40 biliões de dólares em novas despesas de defesa, na Europa. Na Cimeira da NATO, estabelecemos dois novos Comandos da NATO (incluindo um aqui nos Estados Unidos), novas equipas de resposta a ameaças de guerra híbrida (guerra não convencional)    e grandes iniciativas de vários anos para reforçar a mobilidade, a prontidão e a capacidade da Aliança.
5. Paralelamente, trabalhamos para destruir a capacidade de Vladimir Putin de poder conduzir a agressão, impondo custos ao Estado russo e à oligarquia que o sustenta. Com base no testemunho do Secretário Pompeo, estou a submeter para registo, uma lista de acções que esta Administração se incumbiu. Elas incluem, até à data: 217 indivíduos e entidades sancionadas, 6 instalações diplomáticas e consulares fechadas e 60 espiões afastados do solo americano.
6. As nossas acções estão a causar impacto. Uma pesquisa do Gabinete do Economista-Chefe, do Departamento de Estado, mostra que em média, as empresas russas sancionadas vêem a sua receita operacional cair em um quarto; a sua valorização total de activos cai pela metade; e eles são forçados a despedir um terço dos seus empregados. Após o anúncio das sanções em Abril, a empresa russa Rusal perdeu cerca de cinquenta por cento do seu valor de mercado. Nos cinco dias que se seguiram ao anúncio das sanções da Lei das Armas Químicas e Biológicas, em 8 de Agosto, o rublo desvalorizou-se,  atingindo o nível mais baixo em relação ao dólar, em dois anos.
7. Se bem  que tenhamos imposto penalidades sem precedentes à agressão russa, esclarecemos que a porta para o diálogo está aberta, caso Putin escolha dar passos confiáveis em direcção a um caminho construtivo. Na Síria, criamos canais de não-escalada para evitar colisões entre as nossas forças. Na Ucrânia, mantivemos o esforço, com o apoio de Embaixador Kurt Volker, para fornecer os meios pelos quais a Rússia pode cumprir os seus compromissos, segundo os Acordos de Minsk. Mas em todas essas áreas, cabe à Rússia e não à América, dar o próximo passo.
8. Demos um ênfase especial ao reforço dos Estados na linha da frente, da Europa. Na Ucrânia e na Geórgia, levantamos restrições à aquisição de armas defensivas. Nos Balcãs, desempenhamos um papel activo na resolução do conflito entre a Grécia e a Macedónia e no envolvimento com a Sérvia e o Kosovo para impulsionar o diálogo liderado pela União Europeia. Do Cáucaso à Europa Central, estamos a promover a diversificação da energia, a combater a corrupção e competir pelos corações e mentes.
9. A nossa estratégia é animada pela constatação de que a ameaça da Rússia evoluiu para além de ser simplesmente uma ameaça externa ou militar; ela inclui operações de influência orquestradas pelo Kremlin no coração do mundo ocidental. Essas actividades são amplamente providas e dirigidas pelos níveis mais altos do estado russo.
10. É importante indicar claramente o que essas campanhas são e o que não são.
11. Não se trata de um apego particular às causas políticas internas dos EUA. Elas não dizem respeito à direita ou à esquerda, nem à filosofia política americana. Como revelam os recentes saneamentos do Facebook, o Estado russo promoveu vozes marginais na esquerda e na direita políticas, incluindo grupos que defendem a violência, a invasão de prédios federais e a derrota do governo dos EUA. A Rússia fomenta e financia causas polémicas - e depois instiga e financia as causas opostas a essas causas. A tese de Putin é que a Constituição americana é uma experiência que fracassará se for contestada de maneira correcta a partir de dentro. Putin quer desmembrar a República Americana, não por intermédio de influenciar uma eleição ou duas, mas sim sistematicamente, inflamando as linhas de falhas dentro da nossa sociedade. Aceitar este facto é absolutamente essencial para desenvolver uma resposta a longo prazo a este problema. A coisa mais perigosa do mundo que podemos fazer, é politizar o desafio, o que em si, seria um presente para Putin.
12. O que interessa aos esforços russos é a geopolítica: a luta permanente e auto-justificada do sistema Putinista pelo domínio internacional. Como afirma um manual das Forças Armadas Russas, o objectivo é “realizar campanhas psicológicas maciças contra a população de um Estado para desestabilizar a sociedade e o governo; e forçar esse estado a tomar decisões no interesse dos seus adversários.” O que envolve um conjunto de ferramentas evoluídas de política subversiva empregadas pela primeira vez pelos Bolsheviques e depois pelo Estado soviético, aperfeiçoadas pela era digital.
13. O Departamento do Estado leva essa ameaça muito a sério. Combatê-la de maneira aberta e secreta, está entre as maiores prioridades do Departamento dos Assuntos Europeus e Eurasiáticos. Como co-presidente do Grupo de Influência da Rússia, eu trabalho com o General Scapparotti para aproveitar os recursos combinados do EUR e do EUCOM para combater este problema. Sob a liderança do EUR, todas as 49 missões dos EUA localizadas na Europa e na Eurásia são obrigadas a desenvolver, coordenar e executar planos de acção apropriados para reformular as operações de influência russa nos seus países anfitriões.
14. Dentro do Departamento, recrutamos um dos arquitectos da legislação do Global Engagement Center, membro do pessoal desta comissão; estabelecemos uma nova posição – a de Consultor Senior para as Actividades e Tendências Malignas da Rússia (ou SARMAT) - para desenvolver estratégias entre as regiões em todos esses gabinetes. O EUR criou uma equipa empenhada em tomar a ofensiva de expor publicamente, as actividades malignas russas, que desde Janeiro deste ano convocou o Kremlin em 112 ocasiões. Estamos agora a trabalhar com o nosso aliado, o Reino Unido, a fim de formar uma coligação internacional para coordenar esforços neste campo e solicitámos mais 380 milhões de dólares para as contas da segurança e para as contas de ajuda económica, no orçamento do Presidente para 2019.
15. Reconhecemos que o Congresso tem um papel importante a desempenhar no fornecimento de ferramentas e dos recursos necessários para lidar eficazmente com o conjunto dos problemas russos. Como o Secretário Pompeo deixou claro no seu testemunho recente, estamos empenhados em trabalhar com todos vós para progredir contra este problema e alinhamos os nossos esforços em apoio ao Presidente em relação à estratégia da Rússia.
16. Snr. Presidente, agradeço mais uma vez por me ter convidado hoje. Aguardo ansiosamente as vossas perguntas.





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