Valentin
Vasilescu
O Estado-maior russo identificou o calcanhar de
Aquiles dos planos de ataque norte-americano : os misseis anti-balíticos dos
E.U. não podem interceptar nenhum míssil hipersónico na mesosfera. A Rússia,
portanto, desenvolveu novas armas hipersónicas, em torno das quais elaborou a
sua nova doutrina de defesa.
REDE VOLTAIRE | BUCARESTE (ROMÉNIA) | 15
DE JUNHO DE 2016
Na Europa e na Ásia, o exército dos E.U. tem
presente apenas um limitado contingente de soldados, o qual não pode
desencadear sozinho, nem sequer em conjunto com os exércitos aliados, a invasão
da Rússia. Os Estados Unidos, que incluiu o contrôlo dos mares em 1941 como um
dos objetivos de guerra [1],
brilham há sete décadas graças à sua força naval, três vezes mais forte que a
da Rússia, capaz de intervir em qualquer parte do mundo. Segundo o Pentágono,
são precisos doze super porta-aviões para controlar o conjunto dos oceanos,
possuindo a Marinha (Navy) actualmente dez e estando a construir mais três. O
Pentágono dispõe igualmente de um gigantesco comando composto de centenas de
navios, especializados em operações de colocação de divisões de fuzileiros (“marines”-ndT),
de blindados, de veículos, de forças de operações especiais, para participar
numa eventual invasão da Rússia. Por conseguinte, os grupos navais
expedicionárias dos EU, organizados em torno de porta-aviões, navios de
desembarque anfíbios e comboios navais de tropas e de material militar, são
considerados o maior risco para a segurança da Rússia.
Os grupos navais, e os navios de desembarque de
tropas dos EU a partir de navios de transporte, são protegidos por vários tipos
de escudos anti-balísticos. Trata-se do sistema naval AEGIS, armado de mísseis
SM-3 block 1B que neutraliza os mísseis balísticos em vôo de cruzeiro a
altitudes compreendidas entre 100 e 150 km. Este sistema está montado em
contra-torpedeiros (destróieres-br) e cruzadores AEGIS, somando-se aos escudos
anti-mísseis balísticos instalado na Polónia e na Roménia. Por outro lado, o
sistema móvel THAAD das forças terrestres está encarregue de defender os navios
de desembarque. Estes sistemas são destinados a atingir os mísseis balísticos
no início da fase de entrada na atmosfera, a altitudes situadas entre os 80 e
120 km. Acrescente-se a isso as baterias de mísseis móveis AA de longo alcance,
de tipo Patriot, que tem capacidades anti-balísticas contra os mísseis na fase
final da sua trajectória, a uma altitude de 35.000 metros [2].
A classificação das aeronaves em vôo na atmosfera da
Terra é feita segundo a gama de velocidades. Distingue-se assim :
aparelhos voando a uma
velocidade sub-sónica (até 1. 220 km / h, ou seja Mach 1),
aparelhos supersónicos,
cuja velocidade se situa entre Mach 1 e Mach 5 (até 6. 000 km/h ),
e aparelhos hipersónicos,
voando a velocidades entre Mach 5 e Mach 10 (quer dizer, até 12. 000 km/h).
Os russos descobriram que os mísseis anti-balísticos
dos EU não podem interceptar nenhum míssil hipersónico na mesosfera (entre 35.
000 e 80. 000 m). A nova doutrina de defesa da Rússia estabeleceu, pois, que o
antídoto russo para os grupos expedicionários e comboios navais dos EU, é
representado pelos meios militares hipersónicos evoluindo a altitudes que vão
de 35. 000 a 80. 000 metros.
O Ministério russo da Defesa alocou US $ 2 a US $ 5
mil milhões(bilhões-br) à Fundação de Pesquisa Avançada (ARF) –-o equivalente
russo da DARPA do Pentágono--- para conceber uma variedade de meios
hipersónicos derivados do aparelho espacial Yu-71 ( Projecto 4202). De 2011 a
2013, o Yu-71 foi testado em túneis aerodinâmicos, e a partir de 2013, até
Abril de 2016, os testes foram efectuados na atmosfera, com lançamentos por
mísseis estratégicos ligeiros UR-100 e R-29RMU2. O Yu-71 é um pouco semelhante
ao projecto HTV-2, que foi abandonado pelos Estados Unidos em 2014.
O aparelho espacial Yu-71 provou que era capaz de
voar a velocidades de 6.000 a 11. 200 km/h, a uma distância de 5.500 km, a uma
altitude de cruzeiro abaixo de 80.000m. Ele foi chamado de “planador espacial”
porque, contrariamente aos mísseis balísticos, tem um desempenho aerodinâmico
soberbo de quase 5: 1 (relação elevação/sustentação) o que lhe permite
adaptar-se a impulsos repetidos a partir de um motor de foguete, efectuando
assim manobras de elevação de trajetória.
Para além do motor de foguete que permite arranques
e paragens repetidas, o “planador espacial” Yu-71 está armado com ogivas
independentes, com sistemas autónomos de orientação similares aos mísseis
terra-ar Kh-29 L/T e Kh-25 T . A doutrina militar russa prevê que o ataque
contra a frota de invasão dos EU será executado em três vagas, em três alinhamentos,
impedindo assim os grupos navais expedicionários de se posicionar perto da
costa russa do mar Báltico.
A primeira vaga de armas
hipersónicas derivadas do “planador espacial” Yu-71, e dispostas nos submarinos
russos de propulsão nuclear em imersão no meio do Atlântico, podem travar a
batalha com os porta-aviões, com os porta-helicópteros, com os submarinos de
ataque, com os navios cargueiros ou de proteção de grupos navais
expedicionários, assim que estes empreendam a sua travessia do Atlântico para a
Europa.
A segunda vaga de armas
hipersónicas seria lançada sobre os grupos navais dos EU quando eles se
encontrarem a 1. 000 km da costa Leste do Oceano Atlântico. O ataque seria
lançado a partir dos submarinos russos instalados no Mar de Barents ou da base
de mísseis estratégicos de Plesetsk, situada perto do Círculo Polar Ártico e do
Mar Branco.
A terceira vaga de armas
hipersónicas seria lançada sobre os grupos navais inimigos quando eles
atingissem o estreito de Skagerrak (passagem do Mar do Norte para o Mar
Báltico). O ataque será executado com mísseis hipersónicos 3M22 Zirkon,
propulsionados por motores Scramjet, lançados a partir de aviões russos Zirkon
a uma velocidade de Mach 6. 2 (6. 500 km/h), a uma altitude de cruzeiro de
30.000 metros, e com uma energia cinética de impacto com o alvo 50 vezes maior
que a dos mísseis navais e aero-navais(ar-mar) existentes.
A Rússia desenvolve também uma variante de arma
hipersónica derivada do Yu-71 capaz de ser lançada a partir do avião militar
russo de transporte pesado Il-76MD-90A(II-476). Esta avião tem um alcance
máximo de vôo de 6. 300 km e pode ser reabastecido em vôo. Enquanto leva aos
grupos navais norte-americanas cinco a seis dias para alcançar o Mar Báltico, o
avião Il-76MD-90A pode chegar em poucas horas a todos os três alinhamentos
calculados para o lançamento de armas hipersónicas. Muito embora este seja um
segredo bem guardado, parece que a arma hipersónica será lançada pela porta do
avião Il-76MD-90A, a uma altitude de 10. 000m, e, ela está equipada com um
pára-quedas de estabilização que a mantêm em posição vertical até ao arranque
do motor do foguetão. Sendo sabido que 50% do combustível de um míssil é
consumido só para o levantar do solo e o fazer subir às camadas extremamente
densas da atmosfera, até aos 10. 000m, o peso do lançador e do “planador
espacial” fica pela metade do de um míssil balístico ligeiro R-29RMU2, o qual
pesa 40 toneladas.
Suspensos em 1992, os vôos de bombardeiros
estratégicos Tu-160 e Tu-95, assim como dos aviões Il-76 (transformados em
aviões-cisterna para reabastecimento em vôo IL-78), retomaram, desde 2012, o
longo curso das costas do Atlântico e do Pacífico. Um dos seus objectivos é de
formar as equipes para as futuras missões de lançamento de armas hipersónicas.
Tradução
Alva
Alva
[1]
« Charte de
l’Atlantique », Réseau Voltaire, 14 août 1941.
[2]
“Iskander, o pesadelo
do Escudo anti-mísseis balísticos dos E.U.”, Valentin Vasilescu, Tradução
Alva, Rede Voltaire, 26 de Maio de 2016.
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