Comunicado de Maria Zakharova, porta-voz do Ministério das Relações Exteriores, na República da Crimeia da Federação Russa, 07 de Julho de 2016
Índice:
1. Visita do Ministro dos Negócios Estrangeiros ao Azerbaijão
2. O Ministro dos Negócios Estrangeiros, Sergey Lavrov, participa numa reunião dos Ministros das Relações Exteriores dos Estados do Mar Cáspio, no Cazaquistão
3. A situação na Síria
4. O inquérito Chilcot
5. Envolvimento dos EUA nos comícios anti-governamentais em Belgrado
6. O relatório da Comissão de Defesa da Câmara dos Comuns Britânica
7. Declaração do Comandante Supremo das Forças Armadas da Suécia, General Micael Byden
8. Investigação sobre o assassinato de um casal russo em Fiji
9. Respostas às perguntas da comunicação mediática
10. Trabalhos em Artek
11. Os acontecimentos na fronteira Irão-Iraque
12. As actividades da NATO no Mar Negro
13. A cimeira da NATO em Varsóvia
14. As relações russo-turcas
15. Pontos de vista da Rússia no festival de rock, em Treptower Park Berlim
16. Considerações da Rússia sobre os conflitos no Cáucaso
17. Relações russo-turcas
18. O impacto das relações russo-turcas nos laços regionais da Crimeia
19. Convite à líder da Frente Nacional, Marine Le Pen, para assistir às celebrações do Dia da Marinha, no Mar Negro
20. A extradição de pessoas procuradas
21. Facilitar vistos na Crimeia
22. A visita do Presidente Vladimir Putin ao Azerbaijão
23. A recusa de vistos a cidadãos da Crimeia,portadores de passaportes russos
24. Ocorrências na Ucrânia oriental
Notem, por favor, que o nosso briefing de hoje é fora do comum, porque é realizado na República da Crimeia da Federação Russa. Estamos aqui a convite do Centro Internacional da Criança de Artek. A entrevista de hoje também é diferente devido à participação de jovens da 11ª Unidade Media, do Khrustalny Camp http://old.artek.org/en/camps/index.php?SECTION_ID=47 . Ontem, passei o dia a ser conselheira desta unidade e convidei os jovens interessados em reportagens, comunicação mediática/mídia e relações públicas a participar no briefing e verificar como funciona um acontecimento mediático em tempo real.
A visita do ministro das Relações Exteriores ao Azerbaijão
De 11 a 12 de Julho, o Ministro dos Negócios Estrangeiros, Sergey Lavrov, estará na República do Azerbaijão, em visita de trabalho.
Em Baku, as partes irão discutir questões bilaterais actuais e trocar pontos de vista sobre a resolução de Nagorno-Karabakh.
O Ministro dos Negócios Estrangeiros Lavrov irá participar numa reunião de ministros das Relações Exteriores dos Estados do Mar Cáspio, no Cazaquistão
De 12 a 13 de Julho, o Ministro dos Negócios Estrangeiros, Sergey Lavrov, irá visitar o Cazaquistão e participar numa reunião de Ministros dos Negócios Estrangeiros, dos Estados do Mar Cáspio.
Será a sexta reunião dos Ministros de Negócios Estrangeiros da Rússia, do Azerbaijão, do Irão, do Cazaquistão e do Turcomenistão. Essas reuniões tornaram-se numa plataforma eficaz para a cooperação política entre os Estados do Mar Cáspio.
A agenda da reunião inclui o estatuto jurídico do Mar Cáspio, a cooperação entre as cinco nações do Mar Cáspio em diferentes esferas, incluindo a economia, os transportes, a segurança, o ambiente, bem como questões regionais e internacionais importantes. Os participantes vão avaliar os resultados intermédios da implantação das decisões adoptadas pelos presidentes dos Estados costeiros em Astrakhan,na Rússia, em Setembro de 2014 e vão delinear um plano para completar este trabalho antes da próxima 5ª Cimeira Cáspia, no Cazaquistão.
A Rússia valoriza imenso, o diálogo tradicionalmente amigável e baseado na confiança, dentro dos Cinco Estados do Cáspio e considera prioritário chegar a um acordo o mais rapidamente possível sobre o texto da Convenção relativa ao estatuto jurídico do Mar Cáspio, a fim de expandir ainda mais os contactos mutuamente benéficos entre os países limítrofes do Mar Cáspio.
Se, de qualquer maneira, o Ministro mudar a agenda, informar-vos-emos prontamente.
A situação na Síria
Lamentavelmente, o fim do mês sagrado do Ramadão, do Islão e do início do festival da quebra do jejum e abstinência, Eid al-Fitr (Kurban Bayram), não diminuíram a violência na Síria.
Os confrontos continuam a sudoeste de Aleppo. Grupos armados ilegais intensificaram a sua actividade a norte de Aleppo, à volta de Handarat, Kafr-Hamrah e Leramon. Esses grupos prosseguem as ofensivas na província de Latakia, na vizinhança de Palmyra, que foi libertada dos terroristas do ISIS e fazem provocações em Darayya, perto de Damasco.
Só será possível eliminar completamente esse viveiro perigoso do terrorismo internacional na Síria, se asseguramos a separação geográfica entre as forças da oposição, que estão prontas a respeitar o regime de cessar-fogo e os grupos terroristas de Jabhat al-Nusra e se cortarmos os canais de fornecimento de armas e financiamento aos grupos terroristas. O Conselho de Segurança das Nações Unidas estabeleceu precisamente esses termos nas suas resoluções.
Continuam as diligências para manter e fortalecer o regime de cessar-fogo, inclusive através de contactos russo-americanos regulares através de canais militares. Além disso, os militares russos estão a fazer esforços sistemáticos para fazer com que os destacamentos individuais dos grupos armados ilegais respeitem um cessar-fogo local e incentivem mais cidades a aderir ao regime do cessar-fogo. Presentemente, 173 cidades estão observar o cessar-fogo.
Tomámos nota do relatório da organização dos direitos humanos, Amnistia Internacional, que evidencia provas de tortura e de execuções em massa, cometidas por combatentes armados da oposição, incluindo grupos que receberam apoio e ajuda dos EUA, no norte da Síria.
Não podemos ignorar estes relatórios chocantes e estes factos e provas recentes. Infelizmente, estão a chegar agora relatórios trágicos do mesmo tipo, dos distritos de Al-Bab e de Al-Asliya, onde os membros do ISIS capturaram 900 civis, na maioria curdos e estão a usá-los como escudos humanos e a forçá-los a trabalhar na construção de fortificações, etc.
Foi constituído um novo governo liderado pelo Primeiro Ministro, Imad Khamis, em Damasco. Grande número de ministros do governo anterior, mantiveram os seus postos. Uma das tarefas principais do novo governo, é resolver os graves problemas socio-económicos que afectam a Síria, uma vez que o mesmo prossegue a missão difícil de lutar resolutamente contra o terrorismo.
O Inquérito Chilcot
Prestamos atenção ao relatório da Comissão Chilcot sobre as circunstâncias que envolveram a participação do Reino Unido na campanha militar contra o Iraque, de 2003 a 2009, publicado em 6 de Julho.
Claro que é um relatório volumoso; o resultado de um trabalho de quase 7 anos. Precisamos de muito mais tempo para fazer uma revisão completa, lê-lo atentamente e examinar as conclusões em detalhe. Só depois, poderemos dar uma avaliação mais completa. Mas, dar um primeiro olhar às principais conclusões do relatório é suficiente para confirmar o que a Federação Russa tem dito há muitos anos. Declaramos, desde o início da campanha do Iraque - e com factos disponíveis - que a invasão do Iraque foi ilegal, desnecessária e que a suposta necessidade de intervenção militar, foi baseada em provas forjadas. Esta invasão do território de um Estado soberano não foi justificada por quaisquer factos concretos ou por informação verdadeira.
A grande questão continua em aberto: Quem vai assumir a responsabilidade pelas mortes, como afirma o relatório de, pelo menos, 150.000 cidadãos iraquianos, para não mencionar os milhões de refugiados, centenas de milhares de feridos e os numerosos excessos cometidos pelos militares britânicos contra a população local e quais serão as penalidades que terão de enfrentar?
O envolvimento dos EUA nos comícios anti-governamentais em Belgrado
Tivemos conhecimento de reportagens na comunicação mediática sérvia sobre a participação de funcionários diplomáticos dos Estados Unidos em comícios, em Belgrado. Recordem que as manifestações foram dirigidas contra o governo de um estado soberano. É importante salientar que diversos tipos de Organizações não governamentais (NGOs) financiadas do exterior actuam, muitas vezes, como sendo os organizadores directos de tais actividades. É visivel que, por algum motivo, os patrocinadores estrangeiros, realmente não têm muita fé nos "activistas civis" sérvios, por que os diplomatas dos EUA têm de participar pessoalmente nos piquetes e controlar o gasto dos recursos designados. Esta situação representa, naturalmente, um passo inteiramente novo na maneira de apoiar a sociedade civil, mas não há muito mais que possa ser feito. Os cidadãos sérvios mostraram o verdadeiro valor dos protestos da "sociedade civil" financiados do exterior, durante as eleições de 24 de Abril. Como se viu, a coligação liderada pelo Primeiro Ministro, Aleksandar Vucic ganhou a maioria absoluta dos assentos no parlamento.
Em geral, podemos afirmar que a prática da interferência descarada nos assuntos internos criou raízes profundas nos Balcãs. Usando os mesmos esquemas experimentados e testados, com o envolvimento de uma "minoria agressiva" que foi paga a partir do exterior, está a ser preparado terreno para provocar uma nova revolução colorida, desta vez na Macedónia.
Falando sobre a sociedade civil e sobre o que os cidadãos realmente pensam, a opinião da maioria é ignorada. Por exemplo, foi afirmado, repetidamente, que a adesão do Montenegro à NATO vai a toda velocidade, se bem que ninguém inquiriu os montenegrinos sobre quais eram os seus pensamentos sobre esse assunto. Enquanto isso, os montenegrinos continuam a insistir num referendo ou em qualquer outra forma de plebiscito, que seria muito significativa, antes desse país dar um passo importante e sério, que terá consequências no domínio internacional. Tudo isso apenas contribui para aprofundar a divisão que já existe nessa sociedade. Infelizmente, Podgorica, com o forte apoio dos principais países da aliança, recusa-se a realizar um referendo sobre esta questão extremamente importante, que afecta todos naquele país.
O relatório do Comité de Defesa da Câmara dos Comuns britânica
Tomamos conhecimento de um relatório extenso da Comissão de Defesa da Câmara dos Comuns, divulgado em 5 de Julho e intitulado "Rússia: Implicações de defesa e segurança para o Reino Unido " Já postei um breve apanhado das suas cláusulas, na minha página do Facebook. Neste momento, gostaria de passar mais alguns momentos a analisá-lo.
Dada a lógica utilizada pelos autores deste documento, o mesmo provoca os sentimentos bastante contraditórios. Por um lado, os autores caem em vulgaridades e incluiem várias teses cansadas sobre a agressão russa na Ucrânia, comportamento ameaçador em relação aos membros da NATO, propaganda e desinformação, etc. Por outro lado, eles salientam o estado deplorável e sem precedentes, das relações russo-britânicas (o que é um facto e que confirmamos oficialmente) e uma chamada de atenção ao governo do Reino Unido para retomar o diálogo com Moscovo o mais rapidamente possível, a fim de não correr o risco do aparecimento ocasional de conflitos que possam ser evitados através de um intercâmbio melhorado de informações. Não posso deixar de dizer que é uma ideia sensata e oportuna.
No entanto, os autores pedem não só para manter intactas as sanções existentes da União Europeia , mas mesmo para que sejam ampliadas.De modo notável, fizeram um aviso tímido de que, devido à votação Brexit, a capacidade do Reino Unido para avançar com esta decisão será posta à prova.
A falta de compreensão ou a distorção feita pelos autores das ligações causais ao tentar compreender os acontecimentos em curso, incluso no contexto da política externa da Rússia, causa o nosso mais profundo pesar. A Rússia é retratada como sendo a principal fonte de todos os problemas com os quais a NATO, incluindo o Reino Unido, são forçados a lidar. Na verdade, o que estão a ver é o seu reflexo no espelho. Se este relatório reflecte alguma coisa, é o caos e a confusão de pensamento analítico britânico dos últimos tempos.
Claro que estamos preocupados com o nível de competência dos analistas britânicos, sobre a maneira como eles tentam compreender os processos que ocorrem no mundo e na Rússia. Várias páginas deste documento concentram-se na insuficiência de pessoal das unidades que estão no comando do espaço pós-soviético, no fraco conhecimento da língua russa por parte da equipa e na qualidade inferior da sua análise. Penso que é difícil discordar. Gostaria de salientar, mais uma vez que, em nossa opinião, um ponto importante deste relatório é a retoma das relações e, especialmente, a troca de informações com vários departamentos - diplomáticos, militares e agências especializadas – que é agora mais relevante do que nunca.
Declaração do Comandante Supremo das Forças Armadas da Suécia, General Micael Byden
Ficamos perplexos com a declaração feita pelo Comandante Supremo das Forças Armadas da Suécia, General Micael Byden, a respeito da Rússia ser a maior ameaça militar para a Suécia, na semana política anual de Almedalen, na ilha de Gotland, na Suécia.
Tem-se a impressão de que muitos países ocidentais fazem parte de um esforço bem orquestrado para acusar quase diariamente a Rússia de representar uma ameaça para alguém.
Acabei de citar os analistas britânicos que dizem que a Rússia é uma ameaça para a Grã-Bretanha. Agora a Suécia fez o mesmo, como a cumprir uma ordem, a dizer também que a Rússia é uma ameaça para a Suécia, e que representa mesmo a sua maior ameaça. Este caso é mais um exemplo de uma campanha de informação forjada.
Em relação à Suécia, ouvimos essas declarações regularmente e em diversos contextos. É suficiente recordar a "caça" ao submarino russo, na imprensa sueca. Fundamentalmente, todas as histórias sobre submarinos russos provaram ser, apenas, invenções dos oficiais militares suecos, como o conto conhecido universalmente sobre o monstro de Loch Ness, mas desta vez, na Suécia. Nem uma única história foi confirmada. Escusado será dizer, que é lamentável que as declarações russofóbicas provenientes dos militares suecos - todas assombradas por um fantasma russo ameaçador - estejam a tornar-se rotina.
Já dissemos muitas vezes que o rearmamento do Exército russo mencionado por Byden, não tem nada a ver com quaisquer intenções agressivas. Não é nada mais do que a nossa resposta proporcional ao enorme aumento de actividades militares da NATO, que está a deslocar, teimosamente, a sua infra-estrutura bélica para mais perto das fronteiras russas.
Gostaria de chamar a vossa atenção para a abertura sem precedentes de nosso Ministério de Defesa e dos nossos militares, que conduzem briefings, publicam artigos e estão abertos a contactos com jornalistas ocidentais. Mas tudo isso é secundário. Já mencionei que é de importância primordial os contactos de trabalho estáveis normais entre os ministérios e departamentos dos nossos países. Se o Comandante Supremo das Forças Armadas da Suécia, o Sr. Byden tem perguntas, por que é que as faz através da comunicação mediática? Por que não pega no telefone e liga para os seus colegas, na Rússia, ou envia uma mensagem com perguntas? Eles terão prazer em responder-lhe, se o que está a ser feito não for suficiente para os funcionários suecos.
Deixem-me repetir que, se os nossos parceiros suecos têm preocupações sobre a chamada "ameaça russa", estamos sempre prontos a debater com eles, através de um diálogo directo, todas as questões que possam surgir. Lamentavelmente, o lado sueco está a evitar, de propósito, uma argumentação profissional e imparcial, recorrendo à diplomacia pública que não está a ser usada para a finalidade designada. De facto, não é diplomacia pública, mas sim, a utilização da comunicação mediática para fins de propaganda.
Também gostaria de recordar que o Ministério da Defesa realiza reuniões periódicas com os adidos militares credenciados em Moscovo. Gostaria de abordar a Embaixada da Suécia directamente: “Se tiverem dúvidas adicionais, enviem-nas através do Ministério dos Negócios Estrangeiros russo ou directamente aos vossos colegas do Ministério da Defesa. Informar-vos-emos sobre todos os pontos, confirmaremos ou refutaremos a informação e, finalmente, estabeleceremos um diálogo directo. Deixem de utilizar a comunicação mediática para criar tensões e assustar as pessoas com a alegada "ameaça russa".
Investigação sobre o assassinato de um casal russo em Fiji
Em 26 de Junho, as autoridades de Fiji descobriram fragmentos de restos humanos em Natadola Beach (na ilha de Viti Levu). Um dos nossos compatriotas que residem em Fiji, tinha comunicado anteriormente, o desaparecimento dos cidadãos russos, Yury Shipulin e Natalia Gerasimova, em 17 de Junho. Os testes de ADN, feitos em 4 de Julho, confirmaram que os restos pertencem aos cidadãos russos desaparecidos.
Actualmente, as autoridades judiciais do Fiji estão a investigar o assassinato. A Embaixada da Rússia em Canberra, está em contacto constante com as autoridades de Fiji e está a prestar toda a assistência necessária.
Respostas a perguntas da mídia:
Pergunta: Estamos no acampamento das crianças de Artek e gostaríamos de saber como passou o dia de ontem. Tanto quanto sabemos, ontem foi considerada uma "apresentadora célebre". As crianças com quem falou estão agora aqui. Gostaríamos de saber que temas foram discutidos e quais foram as perguntas sobre temas internacionais, que as crianças lhe fizeram.
Maria Zakharova: Ontem, fui apenas uma "jovem conselheira célebre". Uma "apresentadora célebre" é algo que ainda está para acontecer.
Em Junho, vários especialistas do Ministério dos Negócios Estrangeiros russo, eu incluída, receberam convites do Centro Internacional das Crianças de Artek, a fim de lhes falar sobre os diplomatas e sobre o seu trabalho, sobre a nossa profissão, sobre as áreas-chave da política externa da Rússia. Tivemos um calendário muito difícil em Junho: havia muitos eventos internacionais, tanto na Rússia como no estrangeiro. Então sugeri adiar nossa reunião para Julho, quando teria alguns dias livres, de modo a tornar a minha presença tão informativa e relevante quanto possível. Não é a primeira vez que comunico com as crianças em Artek, mas antes era uma comunicação virtual: comunicávamos com Artek através da Internet - conversas de vídeo e mensagens. Criamos um programa desse tipo e eu estava ligada, ou melhor dizendo, inserida na unidade 11.
Tudo começou cedo, durante a manhã de ontem. As crianças levantam-se cedo, às sete da manhã. Às 7 da manhã, fui convidada para uma sessão dos conselheiros da juventude. Surpreendeu-me como tudo estava bem estruturado e os programas claros que todos tinham: cada conselheiro conhece o conjunto de eventos, o seu tempo exacto e as tarefas principais. Depois houve exercícios de manhã para várias unidades, seguido de exercícios individuais e pequeno-almoço. Conduzimos uma aula interactiva sobre diplomacia infantil. As crianças fizeram perguntas sobre a diplomacia como profissão e sobre as relações bilaterais. Por alguma razão todos estavam particularmente interessados nas relações da Rússia com a China, que foi o centro das atenções, por assim dizer. Falei-lhes da ONU, do Conselho de Segurança e da Assembleia Geral. Convidei-os a estudar diplomacia. Ocorreu-lhes uma ideia interessante: eles decidiram enviar uma mensagem aos líderes do G20, na preparação para a próxima cimeira desse grupo, na China. O que mais me impressionou foi que o texto desse comunicado, da primeira até à última palavra, foi composto pelas crianças. Falando francamente, preparei algumas recomendações e propostas, mas não havia necessidade de fazê-lo – o texto estava elaborado de modo tão preciso, os pontos-chave que eram a estrutura fundamental deste documento estavam elaborados de modo muito preciso, lógico e directo, se bem que, com uma simplicidade infantil. Ontem à noite, aprimoramos esse texto, de acordo com as normas requeridas por esses documentos. As crianças ainda estão trabalhá-lo e a recolher assinaturas para o mesmo. No final da minha estadia, ou talvez um pouco mais tarde (depende de quanto tempo vai demorar), esta mensagem ser-me-á entregue e vou encaminhá-la para os especialistas relevantes envolvidos nos preparativos dessa Cimeira. Penso que esta petição irá sensibilizar os líderes da Cimeira do G20, na China.
Depois fomos à praia dar um mergulho. A propósito, falando claramente, de facto, eu queria ter a certeza de que a água era segura. As medidas não têm precedentes. Socorristas profissionais ocupam-se desse trabalho: várias pessoas com alti-falantes permanecem na zona de quebra-mar. Alertam as crianças se alguma coisa não for apropriada. Os conselheiros da juventude estão ao longo da linha de costa, a viagiar as crianças. Cada unidade consiste em 20 ou mais crianças e é dividida em grupos. As crianças entram no mar apenas por grupos. A segurança está disponível ao mais alto grau. Estou a mencioná-lo como mãe, pensando se poderia deixar o meu filho vir para aqui e confiá-lo à Artek. O meu veredicto é: Sim, posso entregá-lo.
Em seguida, chegou o jantar. Penso que hoje, os correspondentes de Moscovo e os jornalistas estrangeiros vão ver como as crianças comem aqui. Perguntei-lhes se gostavam das refeições. Disseram que sim. Falaram dos seus pratos favoritos. Tanto quanto percebi, é pudim e frango. Não posso dizer nada sobre o frango que servem aqui, ainda não provei, mas penso fazê-lo hoje.
Depois houve um período de descanso, que é obrigatório em Artek. Reunimo-nos novamente à tarde e realizou-se a cerimónia de chá. Como vivi na China, expliquei às crianças como preparar o chá correctamente (interesso-me muito por este assunto). Debatemos uma série de questões, incluindo a carta para os líderes do G20, bem como vários projectos da comunicação mediática que poderiam tornar o nosso dia memorável. Após o jantar, fomos todos ao cinema: assisti ao filme "Férias Perigosas" e falei com o director, Yury Feting. O dia terminou no ritual de desejar boa noite, uns aos outros e um bom dia seguinte. Foi assim que passamos o dia de ontem.
Pergunta: Para nosso conhecimento, há vários dias a artilharia do Irão bombardeou Haji Omran e Sidakan - distritos na província iraquiana de Erbil, na fronteira com o Irão, ferindo vários civis. O conflito entre a Turquia e o Partido dos Trabalhadores do Curdistão (PKK) foi retomado nessa mesma altura. As forças armadas turcas bombardearam as regiões fronteiriças do Curdistão iraquiano - Erbil e Dohuk. Em 1 de Julho, Hossein Salami, Vice Comandante do Exército dos Guardiões da Revolução iraniana, ameaçou destruir o norte do Iraque - o Curdistão iraquiano. Durante a oração da Sexta Feira, declarou que o Irão irá destruir todas as forças que ameaçam o país fora das suas fronteiras. Qual é a atitude da Rússia relativamente a essas acções do Irão?
Maria Zakharova: Acreditamos que as acções armadas no território de outros países, incluindo as que são destinadas a reprimir a ameaça terrorista, devem ser tomadas em estrita conformidade com as normas do direito internacional e, de acordo com as autoridades oficiais do estado em que a operação é realizada.
Pergunta: Estamos agora na Criméia. Vê alguma ameaça para a Rússia, na costa do Mar Negro? Quais são os passos dos países da NATO, nesta região, que mais a preocupam?
Maria Zakharova: Gostaria de lha sugerir a leitura da entrevista muito detalhada e minuciosa, dada pelo representante permanente da Federação Russa na OTAN, Alexander Grushko, ao jornal Kommersant. Ele respondeu a uma pergunta semelhante à sua: Quais seriam as medidas de resposta que Moscovo poderia dar, tendo em consideração as actividades da NATO/OTAN nas fronteiras orientais e a consolidação do seu grupo naval na região do Mar Negro. Ele respondeu que estamos a fazer tudo para evitar a ruptura do equilíbrio de forças na região. Estamos a acompanhar todas as etapas da NATO/OTAN. Já disse mais de uma vez que estamos preocupados com as actividades junto às nossas fronteiras e não compreendemos o motivo das mesmas. A única ligação é a campanha de informação sobre a ameaça russa conduzida pelos membros da OTAN. Não há nenhuma ameaça real feita pela Rússia aos países da OTAN. Temos as nossas tarefas internas e as metas que estabelecemos. Estão ligadas à actualização de nosso exército e aos exercícios militares regulares. Mas tudo acontece dentro do território russo. Não estamos a expandir ou a aumentar os nossos contingentes no estrangeiro ou a introduzi-los noutros países. Ao contrário, essas acções estão a ser levadas a cabo pelos membros da NATO. Eles acusam-nos de ter intenções agressivas, mas continuam a esquecer-se de que as nossas acções estão limitadas ao nosso território, enquanto eles estão sempre a cercar-nos cada vez mais.
Gostaria de dizer que tais medidas não ficarão sem uma resposta proporcional, mas não é essa a nossa escolha. Acreditamos que agora a Europa e outras partes do mundo estão a enfrentar problemas urgentes e muito específicos de segurança. Eles não são, de maneira nenhuma, abrangidos pelas actividades da NATO ao longo das fronteiras da Rússia e estão relacionados com factores completamente diferentes: o terrorismo internacional e o crescimento do extremismo (por exemplo, no Oriente Médio e no Norte da África). Não compreendemos como a NATO/OTAN responde a essas ameaças. Oferecemo-nos para trabalhar em conjunto. Sugerimos começar estes esforços específicos, se bem com bastante atraso, no Outono de 2015, como disse o Presidente da Rússia, Vladimir Putin, na Assembléia Geral da ONU. Queremos que esta luta, em parte a acontecer na Síria, seja não só específica e significativa, mas também legal. Poderia ser possível elaborar uma estratégia relevante no Conselho de Segurança da ONU.
Como sabem, tudo este assunto foi ignorado. Esta má situação piorou ao longo do tempo. Agora podemos ver como é que os Estados Unidos estão a começar, lentamente, a cooperar com a Rússia a nível militar. A iniciativa foi nossa. Está a ser levada a cabo com muita dificuldade e notória resistência. Mas os novos desenvolvimentos na região mostram cada vez mais, que a cooperação militar é uma obrigação. Presentemente, Washington reconhece, mas a resistência de alguns grupos ainda permanece muito forte.
Vemos tudo o que a NATO está a fazer. Estamos a responder, dizendo que esta situação não é da nossa escolha. Se há um sentimento de que a Rússia representa alguma ameaça, vamos criar novos formatos para discutí-la, se os existentes já não forem suficientes. Enquanto isso, temos o Conselho Rússia/NATO que foi bloqueado por completo durante longo tempo e está a retomar lentamente o seu trabalho. Temos uma missão permanente na NATO, em Bruxelas, que também está pronta para analisar todas as informações em conjunto, embora a sede tenha restringido os movimentos dos funcionários da missão e os contactos terem sido reduzidos ao mínimo.
Se for uma escolha global a favor de um aumento de armas e de retórica agressiva, não vamos deixá-los sem resposta, mas não é a nossa escolha. Nós lutamos por uma abordagem completamente diferente. Gostaria de chamar a vossa atenção novamente para a entrevista dada pelo Sr. Grushko, à Kommersant, em que debate este assunto detalhadamente.
(A continuar)
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