ARTIGO DE OPINIÃO POR MANUEL BANET BAPTISTA
A recente escalada entre as forças armadas de Israel e as forças do Hamas e da Jihad Islâmica são mais um episódio da longa tragédia que assola a região.
Porém, as forças israelitas são sempre apresentadas como sendo as vítimas, como sendo sempre «obrigadas» a actuar em resposta a um ataque de fanáticos palestinianos, enviando mísseis artesanais.
Nada mais falso. Os ataques com mísseis dos militantes cercados, encurralados em Gaza, são antes uma RESPOSTA aos actos concretos dos militares israelitas alvejando civis, causando mortes e feridos, na ocasião de manifestações junto da fronteira de Gaza.

Porém, a media e os comentaristas em geral, estão sempre a omitir o facto fundamental de Gaza ser – por vontade israelita – um enorme gueto, o maior gueto que jamais existiu em toda a história do médio oriente, apenas comparável com o gueto de Varsóvia, povoado por judeus encurralados pelos nazis que ocupavam a Polónia. Tanto na dimensão, como nos sofrimentos causados, a comparação é adequada pois o longo martírio/genocídio da população de Gaza e dos territórios da Cis-jordânia, é deveras chocante.
A política de apartheid contra a população palestiniana, perseguida pelo Estado de Israel, sempre acenando com a memória do Holocausto, tão facilmente aceite pelos outros Estados, é totalmente ocultada aos olhos do público ocidental.
Porém, até mesmo em Israel, erguem-se vozes, como a de Gideon Levy, que escreve no bem conhecido quotidiano Haaretz, um artigo intitulado «A Insurreição do Gueto de Gaza». Aquilo que ele escreve, poucos fora de Israel vão considerar, mas é isso que mais assusta. Este autor não pode ser proclamado «anti-semita», sendo ele um professor israelita e judeu.
« Uma sociedade que se toma a si própria como exemplar, que se construiu sobre a indiferença do mundo ao seu sofrimento, mostra uma monstruosa falta de compaixão pelo sofrimento que está causando»
Eu não nego que os palestinianos possam cometer ou ter cometido actos terroristas ou que as suas reivindicações básicas, inteiramente justas, não possam sofrer por atitudes desesperadas. Mas a vítima é claramente o povo palestiniano, o qual deveria contar com a solidariedade activa e sincera de todos os que defendem a liberdade, a autodeterminação e igualdade entre os povos. Antes, quis ilustrar aqui um dos muitos casos em que Israel é sistematicamente apresentado como «vítima de agressão», sendo tais «agressões» – afinal – respostas às actuações criminosas, como o alvejar de civis, manifestando-se pacificamente, com snipers do exército, usando munições letais.
Nesta luta desigual, a media do ocidente dá constante cobertura e «absolve» automaticamente os crimes de Golias, que é o Estado de Israel e, sistematicamente, atira lama e propaganda negativa para o lado do «David palestiniano»!