«a ARTE DA GUERRA»
Generais Americanos: a Bomba para a paz
Precisamente dois dias antes do teste dos mísseis
norte-coreanos desencadearem o alarme nuclear em todo o mundo, a revista
Político apresentou um artigo intitulado "Por que razão os EUA têm de
investir em armas nucleares" [1]. O artigo não foi da autoria de um
especialista, mas de dois generais, que
são as mentes controladoras por trás de três quartos das forças nucleares dos
EUA: Dave Goldfein, Chefe do Estado Maior da Força Aérea e Robin Rand, Chefe do
Comando Aéreo para o Ataque Global.
Eles declaram que "embora possa parecer um contra senso, as armas nucleares são um
instrumento fundamental para a paz mundial". E pensam que o mesmo é
demonstrado pelo facto de que, desde o início da era nuclear, acabaram as
grandes guerras. Afirmam que, por conseguinte, é essencial que os nossos
bombardeiros e mísseis nucleares sejam mantidos num estado de eficiência plena.
Presentemente, os Estados Unidos devem proceder à
actualização das suas forças nucleares, pois estão a ser confrontados com
"Potenciais inimigos que estão a modernizar agressivamente e a expandir as
suas forças nucleares e que, cada vez mais, quererem afirmar-se". Os
Generais citam "as ameaças explícitas da Coreia do Norte"; mas é
óbvio que eles estão realmente a referir
a Rússia e a China. Assim advertem num tom ameaçador:"Os nossos inimigos
potenciais devem saber que as chefias da nossa nação tomarão sempre decisões
difíceis e necessárias para proteger e garantir a sobrevivência do povo
americano e dos seus aliados", ou seja, que estão prontos para travar a
Terceira Guerra Mundial, uma guerra nuclear, à qual, de facto, ninguém
sobreviverá. Assim, fazem um pedido perentório à Administração Trump: “ Os
Estados Unidos devem manter todo o empenho em recapitalizar as nossas forças
nucleares.”
O compromisso a que se referem não foi assumido pelo
belicoso Trump, mas por Obama, o Prémio Nobel da Paz, de 2009, pela "sua
visão de um mundo livre de armas nucleares e pelo trabalho que ele fez nesse
sentido." Foi a administração Obama que lançou o maior programa de armas
nucleares desde o final da Guerra Fria, que custou cerca de US $ 1 trilião de dólares americanos e que inclui a
construção de mais 12 submarinos de
ataque nuclear (cada um com 24 mísseis capazes de lançar cerca de 200 ogivas
nucleares), 100 bombardeiros (cada um
deles armado com 20 mísseis com bombas nucleares) e 400 mísseis
intercontinentais, estacionados em terra (cada um com uma ogiva nuclear potente).
Ao mesmo tempo, a modernização das forças nucleares foi
iniciada com tecnologias revolucionárias actuais - documenta Hans Kristensen da
Federação de Cientistas Americanos [2] - "que triplica o poder destrutivo dos
mísseis balísticos existentes nos EUA", como se fossem concebidas para ter "capacidade de lutar e vencer
uma guerra nuclear, desarmando os inimigos através de um primeiro ataque
surpresa." Essa capacidade também inclui um "anti-míssil" para
neutralizar o escudo de retaliação inimigo, como os que foram implantados pelos EUA na Europa, contra a Rússia e na
Coreia do Sul, contra a China.
Portanto, a corrida aos armamentos nucleares está a
acelerar. É significativa a decisão da Rússia, de implantar em 2018, um novo míssil balístico
intercontinental RS-28 Sarmat, com um raio até 18.000 km, capaz de transportar
10 a 15 ogivas nucleares e de reentrar na atmosfera a velocidades hipersónicas
(10 vezes maior do que a velocidade do som), de manobrar para escapar aos
mísseis que os possam interceptar e de penetrar no "escudo".
Mas podemos ficar tranquilos e confiantes, visto que
"as armas nucleares são uma ferramenta crucial para a paz mundial."
[1] “Why the U.S. Is Right to Invest in Nuclear Weapons”, Dave Goldfein & Robin Rand, Politico, May 12th, 2017
[2] “How US nuclear force modernization is undermining strategic stability: The burst-height compensating super-fuze”, Hans M. Kristensen, Matthew McKinzie & Theodore A. Postol, Bulletin of Atomic Scientists, March 1st, 2017.
Trandução portuguesa de
Maria Luísa de Vasconcellos
Email: luisavasconcellos2012@gmail.com
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