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Monday, July 20, 2015

Português -- A lição da Grécia para a Rússia — Paul Craig Roberts

A lição da Grécia para a Rússia — Paul Craig Roberts





Paul Craig Roberts

"A dívida da Grécia só pode ser sustentável através de medidas de alívio da mesma, que vão muito para além do que a Europa esteve disposta a considerar até agora." 


- Fundo Monetário Internacional

A lição da Grécia para a Rússia, China e Irão, é que evitem todas as relações financeiras com o Ocidente. De facto, não se pode confiar no Ocidente. Washington está empenhado em manter a supremacia económica e política acima de qualquer outro país e utiliza o sistema financeiro ocidental para realizar congelamentos e confiscações de bens e sanções. Os países que têm políticas externas independentes  e que também possuem activos no Ocidente, não podem esperar que Washington respeite os seus direitos de propriedade ou posse. Washington congela ou rouba os activos dos países ou, no caso da França, impõe multas de muitos milhões de dólares, a fim de forçar o cumprimento das políticas de Washington. Por exemplo, durante anos o Irão perdeu o direito de usar  100 biliões de dólares, isto é, cerca de um quarto do PIB iraniano, simplesmente porque o Irão insistiu nos seus direitos ao abrigo do Tratado de Não-Proliferação Nuclear.

Os jornalistas russos perguntam-me se a disposição de Obama de chegar a um acordo com o Irão significa haver

 esperança de poder ser alcançado um acordo sobre a Ucrânia. A resposta é Não. Além disso, como vou explicar mais à frente, o acordo com o Irão não significa muito, no que diz respeito a Washington.

Há três dias  (em 14 de Julho) um militar de alta patente, o general Paul Selva, foi o terceiro, no espaço de alguns dias, a dizer ao Senado dos EUA que a Rússia é "uma ameaça existencial para esta nação” (os EUA). Apenas poucos dias antes, o Senado tinha ouvido a mesma coisa do comandante da Marinha dos EUA, Joseph Dunford e do Secretário da Força Aérea. Poucos dias antes disso acontecer, o presidente do *Joint Chiefs of Staff dos EUA alertou para  uma "ameaça híbrida” russa.


{ A cabala de}Washington está fortemente empenhada em usar a Ucrânia contra a Rússia. Todo o conflito que lá existe é originado pelo governo fantoche de Kiev, escolhido por Washington. A  culpa de tudo é atribuida à Rússia, incluindo a destruição do avião de passageiros da Malásia. Washington tem usado acusações falsas para levar a União Europeia a decretar sanções contra a Rússia que não são do interesse dessa mesma União Europeia. Como Washington conseguiu coagir toda a Europa a prejudicar as relações políticas e económicas desses países com a Rússia e a entrar em estado de conflito com ela, certamente Washington não vai consentir num acordo ucraniano. Mesmo que Washington quisesse fazê-lo, como toda a sua posição se baseia apenas em propaganda, Washington teria de desmentir-se, a fim de chegar a um acordo.

Apesar de tudo, o presidente e o ministro das Relações Exteriores da Rússia, continuam a mencionar os Estados Unidos e os países vassalos de Washington que constituem a União Europeia designando-os como "os nossos parceiros." Talvez Putin e Lavrov estejam a ser sarcásticos. O facto mais verdadeiro do nosso tempo é que Washington e os seus vassalos não são parceiros da Rússia.

Adoutrina Wolfowitz,  base da política externa e militar dos EUA, declara que a ascensão da Rússia ou de qualquer outro país não pode ser permitida, porque os EUA são o poder Único e não podem tolerar qualquer restrição nas suas acções unilaterais.

Enquanto esta doutrina reinar em Washington, nem a Rússia, a China e oIrão, nem o acordo nuclear estão seguros. Enquanto o Irão tiver uma política externa independente, o acordo nuclear não protege o Irão, pois qualquer conflito político significativo com Washington, pode produzir novas justificações para sanções.

O acordo nuclear  origina a libertação de 100 biliões de dólares do Irão em saldos ocidentais congelados. Ontem escutei um membro do Conselho das Relações Exteriores dizer que o Irão deveria investir os seus 100 biliões de dólares, agora libertados, em empresas norte-americanas e europeias. Se o Irão agir de acordo, o governo iraniano está a preparar-se para mais chantagens. Investir em qualquer lugar no Ocidente significa que os activos do Irão podem ser congelados ou confiscados a qualquer momento.

Se Obama demitisse as neo-conservadoras Victoria Nuland, Susan Rice e Samantha Power e as substituisse por diplomatas íntegras, as perspectivas iriam melhorar. Assim a Rússia, a China e o Irão teriam uma possibilidade mais razoável de chegar a um entendimento com os EUA em  termos que não tivessem nada a ver com vassalagem.

A Rússia e a China emergiram de um sistema económico comunista que funcionava mal, e consideraram naturalmente  o Ocidente, como sendo um modelo. Parece que a China se apaixonou pelo capitalismo ocidental. A Rússia talvez menos, mas os economistas nestes dois países orientam-se pelos mesmos princípios que os economistas neo-liberais do Ocidente, o que significa que eles são servos inconscientes do imperialismo financeiro ocidental. Ao pensar equivocadamente que estão a agir de acordo com a economia, eles estão a ser fieis à supremacia de Washington.

Com a desregulamentação que começou com o regime Clinton, o capitalismo ocidental tornou-se socialmente disfuncional. Nos EUA e em todo o Ocidente, o capitalismo já não ajuda as pessoas. O capitalismo favorece os proprietários e os gestores de capitais e mais ninguém.

Por esse motivo, a desigualdade do rendimento nos EUA é agora tão má ou pior do que durante a era dos " ladrões de casaca”, isto é,  dos capitalistas ou industriais corruptos e exploradores  da década de 1920. O regulamento de 1930 que tornou o capitalismo num sistema económico que funcionava,  foi revogado. Hoje, no mundo ocidental, o capitalismo é um mecanismo de saques. O capitalismo não só saqueia o trabalho e pilha países inteiros, como a Grécia, que está a ser forçada pela União Europeia a vender o seu património nacional aos compradores estrangeiros.

Antes de Putin e Lavrov referirem novamente os seus "parceiros americanos", devem reflectir na falta de boa vontade da Uniâo Europeia em relação à Grécia. Quando um membro da União Europeia está a ser roubado e espezinhado pelos seus compatriotas, como é que a Rússia, a China e o Irão podem esperar um tratamento melhor? Se o Ocidente não tem boa vontade para com a Grécia, onde está a boa vontade dele em relação à Rússia?

O governo grego foi forçado a capitular perante a União Europeia, apesar do apoio que recebeu do referendo, porque os gregos contaram com a boa vontade dos seus parceiros europeus e subestimaram a falsidade do Um Por Cento. O governo grego não esperava a atitude implacável dos outros governos dos países membros da UE. O governo grego realmente pensou que a análise feita por peritos à situação da dívida e da economia grega, teria peso nas negociações. Esta expectativa deixou o governo grego, sem um plano de recursos adicionais. O governo grego não pensou como devia proceder para deixar o euro, como agir para criar um sistema monetário e bancário independente do euro. A falta de preparação para a saída deixou o governo sem uma alternativa às exigências da União Europeia.

A cessação da soberania fiscal da Grécia é o que está reservado para a Itália, Espanha e Portugal e  no fim, para a França e Alemanha. Como disse Jean-Claude Trichet, o ex-presidente do Banco Central Europeu, a crise da dívida soberana sinalizou que é hora de considerar a Europa para além de um "conceito exacto de nacionalidade." O próximo passo para a centralização da Europa é a centralização política. A crise da dívida grega está a ser utilizada para estabelecer o princípio de que ser membro da União Europeia significa que esse país perdeu a sua soberania.

A noção prevalecente nos meios financeiros ocidentais de que uma solução foi imposta aos gregos, é um disparate. Nada foi resolvido. As condições a que o governo grego foi submetido, tornam a dívida ainda menos possível de ser paga. Dentro de pouco tempo este problema estará novamente perante nós. Como John Maynard Keynes deixou claro em 1936 e, como todos os economistas sabem, afundar o rendimento do consumidor  através do corte das pensões, do emprego, dos salários e dos serviços sociais, reduz o consumo e a procura  de investimento e, deste modo, reduz o PIB, e resulta em grandes déficits orçamentais que têm de ser cobertos por empréstimos. A venda de activos públicos aos estrangeiros transfere os fluxos das receitas para fora da economia grega e para mãos estrangeiras.

No séc. XXI, o capitalismo não regulamentado provou ser incapaz de produzir crescimento económico em qualquer lugar no Ocidente. Consequentemente, os rendimentos familiares estão em declínio. Os governos encobrem o declínio ao subestimar a inflação e por não contabilizar como trabalhadores desencorajados e desempregados aqueles que, incapazes de encontrar emprego, cessaram a procura. Devido a não contabilizar os trabalhadores desencorajados,  os EUA são capazes de relatar uma taxa de 5,2% de desemprego. Se incluirem os trabalhadores desencorajados, a taxa de desemprego sobe para 23,1%. Uma taxa de 23%  de desemprego não tem nada em comum com uma recuperação económica.

Até  a linguagem usada no Ocidente é enganosa. O "resgate" grego não salva a Grécia. O resgate socorre os titulares da dívida grega. Muitos desses detentores não são os credores originais da Grécia. O que o "resgate" faz é com que os investidores de alto risco de New York apostem nos fundos de risco da dívida grega. O dinheiro do resgate não vai para a Grécia, mas para aqueles que especularam se a dívida ia ser paga. De acordo com as informações da imprensa, a flexibilização quantitativa por parte do Banco Central Europeu tem sido usada para comprar a dívida grega a partir dos bancos com problemas que fizeram os empréstimos. Então a questão da dívida não é mais uma questão de credores.

A China parece ignorar o risco de investir nos EUA. Os novos ricos da China estão a comprar comunidades residenciais na Califórnia, esquecendo-se da experiência dos nipo-americanos que foram encurralados em campos de concentração durante a guerra de Washington com o Japão. As empresas chinesas estão  a comprar empresas americanas e depósitos de minério nos EUA. Essas aquisições tornam a China suscetível à chantagem sobre as diferenças da política externa.

O "globalismo", que é altamente publicitado no Ocidente, é incongruente com o unilateralismo de Washington. Nenhum país com activos dentro do sistema ocidental pode da-se ao luxo de ter diferenças políticas com Washington. O banco francês pagou uma a multa 9 biliões de dólares por desobedecer aos preceitos das práticas de empréstimos de Washington, porque a alternativa era o encerramento da sua actividade nos Estados Unidos. O governo francês foi incapaz de impedir esse banco  de ser pilhado por Washington.

Um testemunho da indiferença do nosso tempo, é ter passado despercebida a incompatibilidade flagrante do globalismo com o unilateralismo americano.

* Joint Chiefs of Staff definition - A high-level military advisory board in the Department of Defense,composed of highranking representatives of the army, navy, air force, and marines. The Joint Chiefs are responsible for formulating military policy and recommending action regarding issues of national security and international relations. = É um corpo de Conselheiros do Departamento de Defesa, composto pelas cúpulas dos três ramos das forças armadas, que é responsável por formular  a política militar e recomendar acções a respeito da segurança nacional e das relações internacionais.

As frases avivadas noutra cor foram salientadas pela postadora.

 MAIS ARTIGOS DE PAUL CRAIG ROBERTS PUBLICADOS EM BRASILEIRO:

Tradutor: The Light Journalist





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