Grécia:
O Som e a Fúria, Significam Muito - Paul Craig Roberts
15
de Julho de 2015 |
Toda a Europa, como também os despreocupados americanos e canadianos, foram
avisados da rendição do Syriza perante os agentes do Um Por Cento. A mensagem
do colapso do Syriza é que o sistema de bem-estar social em todo o Ocidente irá
ser desmantelado.
O Primeiro Ministro grego, Alexis Tsipras, concordou com os saques do Um Por Cento
ao povo grego, no que diz respeito à
melhoria do bem-estar social que os gregos alcançaram no séc. XX, após a Segunda
Guerra Mundial. As pensões de reforma e os cuidados de saúde para os idosos
estão a tornar-se obsoletos. O Um Por Cento
precisa de dinheiro.
As ilhas gregas protegidas, os portos, as empresas de água, os aeroportos, toda
a panóplia do património nacional deve ser vendida a favor do Um Por Cento. A
preços irrisórios, é claro, mas as contas da água que vão surgir não serão
insignificantes.
Esta fatia de austeridade é a terceira imposta à Grécia, austeridade que exigiu
a cumplicidade do próprio governo dos gregos. Os acordos de austeridade serviram
literalmente de capa ao saque de tudo que pertencia ao povo grego. O FMI é um
dos membros da Troika que está a impor a austeridade, apesar dos economistas do
FMI terem dito que foi provado que as medidas de austeridade são um erro. A
economia grega foi afundada pela austeridade. Por esta razão, o endividamento
da Grécia aumentou como um fardo. Cada tranche de austeridade torna mais
difícil o pagamento dessa mesma dívida.
Mas, quando o Um Por Cento está a saquear, os factos não têm importância. A
austeridade, que é a pilhagem, tem continuado apesar dos economistas do FMI não
poderem justificá-la.
A democracia grega provou ser impotente. O saque continua, apesar de ter sido
rejeitado há uma semana, pelo voto do povo grego. Então, o que observamos é que Alexis Tsipras é um Primeiro Ministro eleito que não representa o povo grego, mas sim o Um Por
Cento
O suspiro de alívio do Um Por Cento foi
ouvido em todo o mundo. O último partido de esquerda europeia, ou que passa por
ser esquerdista, foi posto de rastos, assim como o Partido Trabalhista da
Grã-Bretanha, o Partido Socialista francês e os restantes.
Sem uma ideologia para sustentá-la, a esquerda européia está morta, assim como
está o Partido Democrata nos EUA. Com a morte desses partidos políticos, as
pessoas já não têm qualquer voz. Um governo em que as pessoas não têm voz não é
uma democracia. Podemos ver esse facto claramente na Grécia. Uma semana depois
do povo grego manifestá-la decisivamente num referendo, o governo ignora-a e
reconcilia-se com o Um Por Cento.
O Partido Democrata americano morreu com a colocação do trabalho noutros países
e destruiu a base financeira do partido nos sindicatos de manufacturas. A
esquerda europeia morreu com a União Soviética.
A União Soviética era o símbolo de que existia uma alternativa socialista ao
capitalismo. O colapso da União Soviética e "o fim da História"
privaram a esquerda de um programa económico e deixou a ala esquerda, pelo
menos na América, com "questões sociais", tais como o aborto, o casamento
homossexual, a igualdade de género e o racismo, que prejudicaram o apoio
tradicional da esquerda à classe trabalhadora. A guerra de classes
transformou-se na guerra entre heterossexuais e homossexuais, pretos e brancos,
homens e mulheres.
Hoje, com os povos ocidentais a enfrentar o regresso à servidão e com o mundo à
beira de uma guerra nuclear, resultante da reivindicação dos neoconservadores
americanos, de serem o povo escolhido pela História com direito a impôr a
hegemonia mundial, a esquerda americana está ocupada a odiar a batalha da bandeira
confederada.
12.
O colapso do último partido de esquerda da Europa, o Syrzia, significa que, a
não ser que surja em Portugal, em Espanha e em Itália, partidos mais determinados,
o bastão passa para os partidos de direita – para o partido da Independência do
Reino Unido, liderado por Nigel Farage, para a Frente Nacional de Marine Le Pen,
em França, e outros partidos da direita que defendem o nacionalismo contra o
extermínio nacional, que é a adesão à União Europeia.
O Syriza não poderia ser bem sucedido, uma vez que não conseguiram nacionalizar
os bancos gregos em resposta à determinação da União Europeia de fazê-los
fracassar. O Um Por Cento grego tem os bancos e os meios de comunicação social
e os militares gregos não mostram sinais de estar com o povo. O que vemos aqui
é a impossibilidade de haver uma mudança pacífica, como explicaram Karl Marx e
Lenin.
14.
As revoluções e reformas fundamentais foram frustradas ou anuladas pelo Um Por
Cento que foi deixado vivo. Marx, frustrado pela derrota das revoluções de 1848
e de acordo com a sua concepção materialista da História, concluiu, tal como
Lenin, Mao e Pol Pot, que, deixar viver os membros da velha ordem, significava a contra-revolução e o regresso das pessoas à
servidão. Na América Latina cada governo reformista é susceptível de ser
derrubado pelos interesses económicos norte-americanos, actuando em conjunto
com as elites espanholas. Hoje, vemos esse processo a ser efectuado na Venezuela
e no Equador.
Devidamente instruídos, Lenin e Mao eliminaram a velha ordem. O holocausto de classe
foi muito maior do que qualquer do que qualquer coisa que os judeus tenham
experimentado no holocausto racial nazi. Mas não há nenhum memorial desse mesmo
nolocausto de classe.
Até hoje, os ocidentais não compreendem o motivo por que Pol Pot esvaziou as áreas
urbanas do Camboja. O Ocidente repudia Pol Pot como sendo um psicopata e
assassino em massa, um caso psiquiátrico, mas Pol Pot estava simplesmente a
agir de acordo com a suposição de que, se ele permitisse que os representantes
da velha ordem permanecessem vivos, a sua revolução seria derrubada. Para usar
um conceito jurídico consagrado pelo regime de George W. Bush, Pol Pot
antecipou-se à contra-revolução, atacando com antecedência e eliminando a classe inclinada à
contra-revolução. O genocídio de classe associado a Lenin, Mao e Pol Pot são um
efeito colateral da revolução.
O Inglês conservador Edmund Burke disse que o caminho do progresso era a
reforma, e não a revolução. A elite inglesa, embora arrastasse os calcanhares,
aceitou a reforma em lugar de revolução, justificando, assim, Burke. Mas hoje,
com a esquerda totalmente derrotada, o Um Por Cento não tem de concordar com reformas.
A a única alternativa é estar em conformidade com o seu poder.
A Grécia é apenas o começo. Os gregos expulsos do seu país pela economia
desbaratada, o desaparecimento do sistema de bem-estar social e a taxa extraordinária
de desemprego irão levar a pobreza para outros países da União Europeia. Os membros
da União Europeia não estão vinculados por fronteiras nacionais e podem emigrar
livremente. O fim do sistema de apoio na Grécia irá conduzir os gregos aos
sistemas de apoio de outros países da União Europeia que, por sua vez, serão
encerrados pelas privatizações do Um Por Cento.
Começaram os Cercos do séc. XXI.
Nota sobre o título:
Uma
nota sobre possessão demoníaca e suicídio do livro de William Faulkner - The
Sound and the Fury = O Som e a Fúria
No final, as palavras
do pai de Quentin soam aos nossos
ouvidos como uma profecia terrível, quando se dirige ao filho, e diz :"Tu
carregas o símbolo da tua frustração para a eternidade" (66). E, embora a
narrativa de Quentin ocasionalmente corra paralela às histórias de Eubuleus e
do homem possuído pelo demónio da região dos gerasenos, o acto final do suicídio
parece confundir toda a lógica, toda a interpretação e toda a esperança
religiosa. Se o suicídio de Quentin é uma tentativa para se libertar dos seus
demónios e para quebrar a "maldição"
da sua família, parece ter sido um fracasso: 18 anos após a sua morte, a
família continua a desintegrar-se, a sofrer e a cair num declínio irreversível;
18 anos após a sua morte, os velhos demónios sobrevivem, são transmitidos e, no fim,
são substituídos por outros novos.
Source: http://drc.usask.ca/projects/faulkner/main/criticism/jensen.html
Translator: The Light Journalist
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