ou
DOMÍNIO DA UNIVERSALIDADE
Tibete:
É Libertado um Velho Activo da CIA
No início de 2008, o ‘establishment
dos EUA’ determinou que era o momento de uma grande escalada de pressão sobre a
China, desencadeando, desta vez, desestabilização dentro do território chinês,
na Província Autónoma do Tibet.
Foi um momento extremamente
sensível nas relações EUA-China. Os mercados financeiros dos Estados Unidos
estavam extremamente dependentes do investimento dos dólares excedentes da
China na dívida do governo dos EUA, nos títulos do Tesouro, e também nos
títulos imobiliários Freddie Mac e Fannie Mae. A agitação do Tibete foi marcada
para o período que antecedia as Olimpíadas de Pequim. Ao abanar as chamas da
violência no Tibete, sob essas condições voláteis, indicava que Washington havia
decidido fazer um jogo geopolítico de alto risco com Pequim.
A intromissão dos EUA no
Tibete foi iniciada pelo governo Bush nos meses anteriores, coincidindo com a
sua interferência no Sudão e em Mianmar, e incluía a ‘entente’ militar especial
com a Índia, dirigida contra a China. No final de 2004, o Secretário de Defesa
dos EUA, Rumsfeld, propôs à Índia um novo nível de cooperação militar e
estratégica, ao actualizar a “Minuta Acordada sobre as Relações de Defesa de
1995”. Mais tarde, fontes militares e diplomáticas dos EUA admitiram que o seu
objectivo estratégico era o papel económico crescente da China, na Ásia.(32)
A operação do Tibete ganhou
luz verde em Outubro de 2007, quando George Bush concordou em encontrar-se com
o Dalai Lama, pela primeira vez publicamente, em Washington. O Presidente dos
Estados Unidos estava bem ciente da enormidade de tal insulto à China, o seu
maior parceiro comercial. Bush então aprofundou a afronta a Pequim, ao
participar na cerimónia de Washington, concedendo ao Dalai Lama a Medalha de
Ouro do Congresso.
A decisão de Bush, filho de um
antigo Embaixador dos EUA em Pequim, foi deliberada. Ele estava bem ciente de
que a presença do Presidente dos Estados Unidos numa cerimónia oficial do
governo dos EUA, em homenagem ao Dalai Lama, seria percebida como um sinal do apoio
crescente dos EUA ao movimento de independência do Tibete.
Imediatamente após os monges
tibetanos se revoltarem, em Março de 2008, o entusiasmo do apoio pró-Tibete de
George Bush, Condoleezza Rice, do francês Nicolas Sarkozy e da alemã Angela
Merkel, atingiu o absurdo. Embora a Chanceler Merkel tenha anunciado que não
compareceria às Olimpíadas de Pequim, ela pronunciou declarações contraditórias
sobre se esse facto seria para protestar contra o tratamento que Pequim fazia
aos monges tibetanos, ou se seria devido a compromissos anteriores. Não
importava; a publicidade em torno do “debate” bastava para dar a impressão de
um protesto internacional. Na verdade, Angela Merkel planeou primeiro, não comparecer
às Olimpíadas.
O anúncio de Merkel foi
seguido de outro, do Primeiro Ministro da Polónia, o pró-Washington Donald
Tusk, dizendo que ele também permaneceria afastado, juntamente com o Presidente
Checo pró-EUA, Vaclav Klaus. Não estava claro se eles também não tinham planeado
ir, em primeiro lugar, mas os seus anúncios criaram cabeçalhos mediáticos
melodramáticos.
A onda de protestos violentos
e ataques de monges tibetanos contra moradores chineses de etnia Han no Tibete,
começou em 10 de Março, quando várias centenas de monges marcharam em Lhasa, pedindo a libertação de outros monges supostamente detidos por celebrar o
recebimento da Medalha do Congresso dos EUA, pelo Dalai Lama, no mês de Outubro
anterior. O primeiro grupo de monges foi acompanhado por outros monges que
protestavam contra o governo de Pequim e comemoravam o 49º aniversário de uma
revolta tibetana anterior, contra o domínio chinês.
O
Jogo Geopolítico do Tibete
Como o próprio governo chinês
foi rápido a salientar, a súbita erupção de violência anti-chinesa no Tibete,
uma nova fase no movimento liderado pelo exilado Dalai Lama, foi programada de
maneira suspeita. Foi, nitidamente, uma tentativa para tentar pôr em evidência
o histórico dos direitos humanos de Pequim, na véspera da Olimpíada de Agosto
de 2008, um acontecimento percebido na China, como uma grande afirmação da chegada
de uma China recentemente próspera, ao cenário mundial.
Os protagonistas do plano de
fundo, na tentativa da ‘Revolução Carmesim’ do Tibete, confirmaram que
Washington tinha estado a preparar outra das suas vergonhosas Revoluções
Coloridas, desta vez promovendo protestos públicos destinados a infligir o
máximo constrangimento a Pequim.
Os protagonistas no terreno,
dentro e fora do Tibete, foram as agências habituais envolvidas nas
desestabilizações do regime patrocinado pelos EUA, incluindo o Departamento de
Estado, a National Endowment for Democracy (NED). No caso do Tibete, a Freedom
House da CIA também estava envolvida. A sua Presidente, Bette Bao Lord - esposa
de Winston Lord, antigo Embaixador dos EUA na China e Presidente Council on
Foreign Relations - desempenhou uma função na Comissão Internacional para o
Tibete.
O
Planalto Tibetano é a fonte de sete Grandes Hidrovias Navegáveis
O Primeiro Ministro chinês,
Wen Jiabao, acusou o Dalai Lama de orquestrar a mais recente insurreição para
sabotar os Jogos Olímpicos “a fim de alcançar o seu objectivo indescritível”,
um Tibete livre. As paradas para a China e para Washington eram enormes.
Bush telefonou ao seu colega
chinês, o Presidente Hu Jintao, a pressionar para haver conversações entre
Pequim e o exilado Dalai Lama. A Casa Branca disse que Bush “levantou as suas
preocupações sobre a situação no Tibete e encorajou o governo chinês
empenhar-se num diálogo essencial com os representantes do Dalai Lama e
permitir o acesso de jornalistas e diplomatas”. (33)
Os
Amigos Bizarros do Dalai Lama
No Ocidente, a imagem do Dalai
Lama havia sido tão cuidadosamente promovida que, em muitos círculos,
particularmente naqueles que se consideravam politicamente progressistas, ele
era considerado quase um Deus. Enquanto a vida espiritual do Dalai Lama era
outra questão, era relevante notar que o tipo de pessoas que se aglomeravam
em torno da pessoa do 14º Dalai Lama não usufruíam da melhor reputação em
termos de compaixão ou justiça para com os seus semelhantes.
O Dalai Lama viajou em
círculos políticos conservadores bastante extremos, já em 1930. Naquela época,
os nazis alemães, incluindo o chefe da Gestapo, Heinrich Himmler, e outros
líderes do Partido Nazista, consideravam o Tibete como o local sagrado dos
sobreviventes da perdida Atlântida e a origem de sua “raça nórdica pura”.
Tenzin Gyatso, nascido em
1935, era o nome do menino que, aos 11 anos, já era designado como Dalai Lama.
Nessa tenra idade, ele foi ajudado por Heinrich Harrer, membro fanático do
Partido Nazi e oficial da temida Schutzstaffel, a SS, de Heinrich Himmler.
Longe da imagem inocente de Harrer retratada no popular filme de Hollywood ‘Sete
Anos no Tibete’, de Brad Pitt, Harrer juntou-se voluntariamente à SS, a Guarda
Pretoriana do Führer e participou nos incêndios concretizados contra as
sinagogas judaicas durante o terror da Kristallnacht, em 1938. De acordo com
relatos de testemunhas oculares, Harrer continuou a ser um nazi dedicado até ao
fim da guerra. Em 1944, Harrer escapou de um campo de concentração britânico e
fugiu para o Tibete, onde se tornou o tutor designado do jovem Dalai Lama para “o
mundo fora do Tibete” .(34) Permaneceram amigos até Harrer morrer em 2006, aos
93 anos de idade.(35)
Essa amizade foi notável no
contexto de outros amigos do Dalai Lama. Em Abril de 1999, apoiado por Margaret
Thatcher e pelo antigo Embaixador da China nos EUA, o Director da CIA e Presidente,
George H.W. Bush, o Dalai Lama, exigiu que o governo britânico libertasse
Augusto Pinochet, o antigo ditador fascista do Chile e antigo cliente da CIA
que tinha sido colocado em prisão domiciliar durante a visita a Inglaterra. O
Dalai Lama pediu que Pinochet não fosse extraditado para Espanha, onde seria
julgado por crimes contra a Humanidade. O Dalai Lama também cultivou laços
estreitos com Miguel Serrano, chefe do Partido Socialista Nacional do Chile,
proponente de algo designado como “hitlerismo esotérico” .(37)
Além do mais, tinha sido
revelado em documentos oficiais do governo dos EUA que, desde 1959, o Dalai Lama
tinha estado rodeado e financiado, em parte significativa, por vários serviços
secretos dos EUA e do Ocidente, e o seu bando de ONGs.(38)
Foi a agenda desses amigos de
Washington, do Dalai Lama, que foram relevantes para as revoltas e distúrbios
no Tibete, em Março de 2008.
A
NED de Novo. . .
O autor Michael Parenti
observou no seu estudo, Friendly Feudalism:
The Tibet Myth/Feudalismo Amistoso: O Mito do Tibete, que “durante os anos
50 e 60, a CIA apoiou activamente a causa tibetana com armas, treino militar,
dinheiro, apoio aéreo e todo tipo de ajuda”. (39)
Segundo Parenti, a Sociedade
Americana para uma Ásia Livre, uma frente da CIA, publicou a causa da
resistência tibetana ao recrutar o irmão mais velho do Dalai Lama, Thubtan
Norbu, para desempenhar um papel activo no grupo. O segundo irmão mais velho do
Dalai Lama, Gyalo Thondup, estabeleceu uma operação de serviços secretos em
conjunto com a CIA, em 1951. Posteriormente foi transformado numa unidade de
guerrilha treinada pela CIA cujos recrutas foram lançados de pára-quedas no
Tibet.(40)
Documentos não confidenciais dos serviços
secretos americanos, disponibilizados no final da década de 1990 revelaram que:
durante grande parte da década de 1960, a CIA forneceu ao movimento tibetano de
exílio 1,7 milhões de dólares por ano para operações contra a China, incluindo
um subsídio anual de 186.000 dólares para o Dalai Lama.(41)
Em 1959, a CIA ajudou o Dalai
Lama a fugir para Dharamsala, na Índia, onde vive desde então. Ele continuou a
receber milhões de dólares de apoio até 2008, não da CIA, mas de uma
organização da CIA que soava mais inofensiva, a National Endowment for
Democracy (NED) financiada pelo Congresso dos EUA.(42)
A NED, como descrito acima,
foi fundamental em toda a desestabilização de Revolução Colorida apoiada pelos
EUA, da Sérvia à Geórgia, da Ucrânia à Mianmar. Os seus fundos foram usados para
apoiar a comunicação mediática da oposição e campanhas de relações públicas
globais para popularizar os seus candidatos preferidos da oposição.
A NED havia sido fundada pela
Administração Reagan no início dos anos 80, por recomendação de Bill Casey, Director
da Agência Central de Inteligência de Reagan, após uma série de exposições altamente
publicitadas de assassinatos da CIA e desestabilizações de regimes hostis. A
NED foi planeada para se posicionar como uma ONG independente, afastada das
agências da CIA e do governo, de modo a ser, presumivelmente, menos visível. O
primeiro presidente em exercício da NED, Allen Weinstein, comentou com o
Washington Post que “muito do que nós [a NED] fazemos hoje, foi feito
secretamente há 25 anos pela CIA”. (43)
Como historiador das actividades
dos serviços secretos americanos, William Blum declarou:
A NED desempenhou um papel importante no
caso Irão-Contra, dos anos 80, financiando componentes-chave do 'Projecto
Democracia', sombrio e ilegal, de Oliver North. Essa rede privatizou a política
externa dos EUA, travou guerras, distribuiu armas e drogas e empenhou-se em actividades
ilegais. Em 1987, um porta-voz da Casa Branca declarou que os participantes da
NED ‘executam o Projecto Democracia’. (44)
A organização mais proeminente
a favor do Dalai Lama do Tibet, na tentativa de desestabilização de 2008, foi a
Campanha Internacional pelo Tibete (ICT), fundada em Washington, em 1988.
Pelo menos, desde 1994, a ICT estava a receber
fundos do NED. A ICT concedeu o seu prémio anual ‘Luz da Verdade’, em 2005, a Carl Gershman,
fundador da NED. Outros vencedores do prémio ICT incluíam a Fundação Alemã
Friedrich Naumann e o líder checo, Vaclav Havel. A Directoria do ICT foi
preenchida com antigos funcionários do Departamento de Estado dos EUA,
incluindo Gare Smith e Julia Taft. (45)
Outra organização anti-Pequim
muito activa era o Students for Free Tibet (SFT), sediada nos Estados Unidos,
fundada em 1994, na cidade de Nova York como um projecto da Comissão Tibetana dos
EUA e da ICT financiada pela NED. A SFT era mais conhecida por ter desenrolado
uma faixa de 450 pés no topo da Grande Muralha na China, pedindo um Tibete
livre e acusando Pequim de alegações de genocídio totalmente sem fundamento,
contra o Tibete. Aparentemente, foi um bom drama para mobilizar estudantes
americanos e europeus ingénuos, a maioria dos quais nunca esteve no Tibete.
A seguir:
‘O Levantamento do Povo Tibetano’
Made In USA
Tradutora: Maria Luísa de Vasconcellos
Email: luisavasconcellos2012@gmail.com
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