CAPÍTULO
DOIS
Controlar
as Revoluções Coloridas e os Golpes dos ‘Enxames’ na Rússia
A
operação - engenharia da democracia através das urnas e da desobediência civil
- está agora tão bem organizada, que os métodos se aperfeiçoaram num modelo
para vencer as eleições dos outros povos.
-
Ian Traynor, London Guardian, 26 de novembro de 2004
Washington Aperfeiçoa um Método para Encenar
Golpes de Estado
No ano
2000, surgiu um fenómeno político, novo e estranho, em
Belgrado, a capital da Sérvia, da antiga Jugoslávia. Embora aparentemente
surgisse do nada, sinalizou uma mudança no curso da guerra secreta dos EUA. À
superfície, parecia ser um movimento político espontâneo e genuíno. Na
realidade, era o produto de técnicas que vinham a ser estudadas e desenvolvidas
nos Estados Unidos, há décadas. Os estrategas militares da RAND Corporation
tinham analisado os padrões dos movimentos de protesto político bem-sucedidos,
como as revoltas estudantis de 1968, em Paris. Eles identificaram as técnicas
como sendo semelhantes a “enxames”, porque eram descentralizadas, mas
interligadas, como um enxame de abelhas.(1)
Em
Belgrado, os protagonistas fundamentais foram várias organizações: o National
Endowment for Democracy (Fundo Nacional para a Democracia) e dois dos seus
ramos, o Instituto Nacional Republicano, ligado ao Partido Republicano, e o
Instituto Nacional Democrático, vinculado aos democratas. Embora afirmassem ser
Organizações Não-Governamentais (ONGs) privadas, de facto, eram financiadas
pelo Congresso dos EUA e pelo Departamento de Estado. Munidas com milhões de
dólares dos contribuintes dos EUA, essas mesmas organizações foram instaladas
para criar um movimento sintético para levar a cabo “mudanças não violentas”.(2)
O
repórter do ‘The Washington Post’, Michael Dobbs, forneceu uma descrição em
primeira mão do que aconteceu em Belgrado. O início está ligado a uma reunião
secreta à porta fechada, em Outubro de 1999, há mais de um ano:
(Belgrado) - Numa sala de conferências suavemente iluminada, o analista de votações americano, Doug Schoen, mostrou os resultados de uma pesquisa de opinião em profundidade, de 840 eleitores sérvios numa tela de projecção, esboçando uma estratégia para derrubar o último governante da era comunista, que restava na Europa.
(Belgrado) - Numa sala de conferências suavemente iluminada, o analista de votações americano, Doug Schoen, mostrou os resultados de uma pesquisa de opinião em profundidade, de 840 eleitores sérvios numa tela de projecção, esboçando uma estratégia para derrubar o último governante da era comunista, que restava na Europa.
A sua mensagem, confiada aos líderes da
oposição tradicional da Sérvia, era simples e poderosa. Slobodan Milosevic -
sobrevivente de quatro guerras perdidas, de duas grandes manifestações de rua,
de 78 dias de bombardeio da NATO e de uma década de sanções internacionais -
estava “completamente desprotegido” perante um desafio eleitoral bem
organizado. A explicação, segundo mostraram os resultados da votação, foi a
unidade da oposição.
Realizado num hotel de luxo em Budapeste,
capital da Hungria, em Outubro de 1999, a informação, à porta fechada, dada por
Schoen, um democrata, acabou por ser um evento produtivo, apontando o caminho
para a revolução eleitoral que derrubou Milosevic um ano depois. Também marcou
o início de um esforço extraordinário dos EUA para derrubar um chefe de Estado
estrangeiro, não por meio de acções secretas do tipo que a CIA empregou em
países como o Irão e a Guatemala, mas por técnicas modernas de campanha
eleitoral.
Embora as linhas gerais da campanha de 41
milhões de dólares para a construção da democracia dos EUA, na Sérvia, sejam de
conhecimento público, entrevistas com dezenas de protagonistas importantes,
tanto na Sérvia como nos Estados Unidos, sugerem que ela foi muito mais extensa
e sofisticada do que relatado anteriormente.
Considerada por muitos como a última grande
revolução democrática na Europa Oriental, a destruição de Milosevic pode também
entrar para a História como a primeira revolução norteada para efectuar uma
revolução dirigida por grupos de pesquisadores de votação. Por trás da
aparente espontaneidade das demonstrações de rua que forçou Milosevic a
respeitar os resultados de uma eleição presidencial muito disputada, em 24 de Setembro,
estava uma estratégia cuidadosamente incrementada pelos activistas da
democracia sérvia, com a assistência activa de conselheiros e agentes
ocidentais. (3)
Dobbs
informou que o governo dos Estados Unidos “comprou” a deposição de Milosevic
por 41 milhões de dólares. A operação foi executada fora do gabinete do Embaixador
americano, Richard Miles, segundo o seu relato: “através de agentes
especialmente treinados, que coordenaram as redes de estudantes ingénuos que
estavam convencidos de que estavam a lutar por um mundo melhor, pela ‘American
way of life.’
O “The Washington Post” observou que “os
consultores financiados pelos EUA desempenharam um papel crucial nos bastidores,
praticamente, em todas as facetas da campanha contra Milosevic, efectuando
pesquisas de opinião, treinando milhares de activistas da oposição e ajudando a
organizar uma contagem de votos paralelos de importância vital. Os
contribuintes americanos pagaram 5.000 latas de tinta spray usadas pelos activistas
estudantis para escrever frases contra Milosevic, nas paredes, em toda a
Sérvia. ”(4) Cerca de 2,5 milhões de cartazes com o mote ‘Gotov Je’ (ele está
acabado) foram colados em toda a Sérvia; “Gotov Je” tornou-se o slogan da
revolução. O grupo foi denominado
Otpor, que significa “resistência”.
Este relato
notável, em primeira mão, de um dos mais respeitados jornais do ‘establishment’
americano, revelou o que estava a acontecer na Sérvia para derrubar Milosevic.
Inicialmente, o papel dos EUA foi apoiar Milosevic no início dos anos 90; mas,
mais tarde, a propaganda oficial dos EUA, atribuiu características diabólicas a
Milosevic, como sendo o herdeiro de Hitler em termos de atrocidades. Essa
inversão completa sugeria a agenda escondida de Washington.
Por trás
do Otpor havia o Departamento de Estado dos EUA que, em Belgrado, era dirigido
pelo Embaixador dos EUA, na Sérvia, Richard Miles. A Agência dos Estados Unidos
para o Desenvolvimento Internacional (USAID) canalizou os fundos através de
contratos comerciais e através das chamadas ONGs - NED, NDI e IRI.(5)
De
acordo com Dobbs, o IRI pagou a cerca de duas dúzias de dirigentes do Otpor
para participarem num seminário sobre resistência não violenta no Hotel Hilton, em
Budapeste. Aí, os estudantes sérvios foram treinados em assuntos tais como organizar
uma greve, como se comunicar com símbolos, como superar o medo e como destruir
a autoridade de um regime ditatorial. O orador principal foi o antigo coronel
do Exército dos EUA, Robert Helvey, antigo analista da Defense Intelligence
Agency, que treinou e depois usou os activistas do Otpor para distribuir 70.000
cópias de um manual sobre resistência não-violenta. Helvey tinha trabalhado com
Gene Sharp, fundador da polémica Albert Einstein Institution, em Boston, onde o
Pentágono aprendeu a ocultar os seus golpes de Estado sob a capa da não-violência.
Sharp foi descrito por Helvey como “o Clausewitz do movimento da não-violência”,
referindo-se ao famoso estratega militar prussiano.(6)
As tácticas
não violentas em que a juventude “Otpor!” foi treinada, eram baseadas nas
análises da RAND Corporation sobre os métodos de guerra de Ghengis Kahn,
atualizados com as tecnologias modernas de rede, que interligavam as pessoas
como enxames de abelhas.(7) Ao usar imagens de satélite GPS, os agentes especiais
podiam direccionar os seus líderes, especialmente treinados, no terreno, a fim
de manobrar protestos “espontâneos” que enganaram sempre a polícia ou os
militares. Entretanto, a CNN estaria colocada, cuidadosa e convenientemente,
para projectar imagens para todo o mundo, dos protestos desses “manifestantes” jovens
e não-violentos. (Nota: ver a semelhança desta
situação com o que se está actualmente a passar com os protestos dos jovens em
Hong-Kong https://www.youtube.com/watch?v=YfZ30AfEABQ)
O que
era novo no golpe de Belgrado contra Milosevic era o uso da Internet –
especialmente as ‘chat rooms’, mensagens instantâneas e blogs - juntamente com os
telemóveis ou telefones celulares, incluindo mensagens de texto SMS. Usando
esses recursos de alta tecnologia que surgiram apenas em meados da década de
1990, um punhado de líderes treinados poderia rapidamente conduzir à vontade, a
juventude rebelde e sugestionável da “Geração X”, afim de participar, ou para
sair das manifestações de massa.(8)
Otpor !, a mão dos EUA por trás
do golpe de Estado de Belgrado, em 2000, foi a primeira aplicação civil
bem-sucedida do que se tornaria a marca registada das políticas de Defesa dos
EUA, sob o comando do Secretário de Estado, Donald Rumsfeld, no Pentágono.
A
confiança nas novas tecnologias de redes de comunicações para instalar,
rapidamente, pequenos grupos foi a contrapartida civil da doutrina “Revolução
nos Assuntos Militares” de Rumsfeld - a distribuição de pequenos grupos armados,
com grande mobilidade, dirigidos pelos serviços secretos e pelas comunicações “em
tempo real”. Um analista americano,conhecedor do processo descreveu a relação
existente:
Os
esquadrões de soldados que se apoderam dos quarteirões da cidade com a ajuda
dos monitores de vídeo dos “capacete de inteligência”, que lhes dão uma visão
instantânea do seu ambiente, constituem o lado militar. Grupos de jovens que
convergem para cruzamentos planeados, em diálogo constante através de
telemóveis/celulares, constituem a aplicação civil da doutrina. (9)
Se a
invasão do Iraque pelos EUA, em 2003, foi a forma violenta da doutrina militar
de Rumsfeld, o golpe da Sérvia, seguido da “Revolução Rosa”, na Geórgia e da “Revolução
Laranja” na Ucrânia, foram exemplos da aplicação civil e não violenta dessa
doutrina. À medida que os desastres do Iraque e do Afeganistão se aprofundavam,
muitos estrategas americanos estavam cada vez mais convencidos de que a aplicação
“civil” era muito mais eficaz, do que um conflito militar declarado.
Não foi
por acaso que houve tal semelhança entre os modelos civis e militares para a
mudança de regime. Andrew Marshall, antigo estratega da RAND e chefe isolado do
Departamento de Avaliações da Net/ Pentagon Office of Net Assessments do
Pentágono, desde 1974, havia supervisionado o desenvolvimento de ambos a partir
do seu gabinete no Pentágono. Através de técnicas sofisticadas de marketing da
Madison Avenue e do estudo cuidadoso de movimentos de protesto genuínos, o
governo dos EUA tinha aperfeiçoado as técnicas para se livrar “democraticamente”
de qualquer oponente, enquanto convencia o mundo de que eram derrubados por
explosões espontâneas de liberdade. Foi
uma arma terrivelmente eficiente.
A
revolução sérvia do Otport! foi fundada, guiada e financiada secretamente, pelo
governo dos EUA, por meio de ONGs seleccionadas. Marcava a perfeição moderna das
técnicas que, segundo Jonathan Mowat, tinham sido estudadas, durante anos, pelo
Pentágono e pelos seus vários ‘think tanks’, principalmente a California RAND Corporation, de Santa Monica. (10)
As Medidas Cruéis Anteriores da CIA
O trabalho de Tavistock, nas
duas décadas a seguir, foi associar as percepções psicológicas existentes a grupos sociais e a dinâmicas sociais, a fim de refinar as técnicas de manipulação
social.
Nos
primeiros dias da sua existência, a Agência Central de Inteligência empregou
medidas relativamente confusas para efectuar mudanças de regime, quando
Washington queria alguém fora do seu caminho. A destruição do Primeiro Ministro,
popular e eleito democraticamente, Mohammed Mossadegh, no Irão, foi alcançada,
principalmente por agentes secretos da CIA, enviados para o país com dinheiro,
que distribuíam a manifestantes falsos, fornecendo-lhes slogans e cartazes de
apoio ao Xá. Isto motivou as forças reaccionárias da oposição monarquista ao
Xá. Mossadegh foi preso e os interesses petrolíferos dos EUA estavam, de novo,
protegidos. Na Guatemala, a CIA agiu em nome e por solicitação da United Fruit
Company, para se livrar do presidente eleito Arbenez, um nacionalista cujas
medidas de melhoria económica para os camponeses guatemaltecos ameaçavam os
lucros do produtor de banana dos EUA.(11)
Nos
primeiros anos, o padrão do “imperialismo informal” dos EUA, como alguns o
designavam, era repetido com frequência. Todos os tipos de ocultação e
intervenções ilegais nos assuntos soberanos de outras nações poderiam ser
justificados em termos da Guerra Fria contra a “ameaça” do comunismo. Os
interesses das empresas americanas, no estrangeiro, podiam estar ameaçados, até
mesmo por líderes não-comunistas que eram populares ou democraticamente eleitos,
porque favoreciam a reforma agrária, sindicatos mais fortes e redistribuição da
riqueza. Também ameaçavam os interesses dos EUA, os dirigentes que
nacionalizaram os recursos locais e limitaram a indústria estrangeira, ou
procuraram regulamentar os negócios para proteger trabalhadores ou
consumidores.
Em representação
das empresas americanas e, muitas vezes, com a sua ajuda, a CIA iria mobilizar
a oposição interna. Primeiro, identificava os grupos de extrema direita nesse
país, habitualmente ligado aos militares, e depois ofereciam-lhe um acordo: ‘Ajudamo-vos
a tomar conta do poder se mantiverem um clima de negócios que nos seja
favorável’. Para facilitar o processo, como era habitual, estavam envolvidas
enormes quantias de dinheiro e gratificações.
A CIA
então colaboraria com eles para derrubar o governo existente, geralmente, uma
democracia. Usava um vasto leque de truques e tácticas: propaganda,
urnas sabotadas, eleições compradas, extorsão, chantagem, intrigas sexuais,
histórias falsas sobre os opositores na comunicação local, greves de transporte,
infiltração e ruptura dos partidos políticos opostos, rapto, espancamento,
tortura, intimidação, sabotagem económica, esquadrões da morte e até o assassinato.(12)
Esses esforços culminariam, normalmente, num golpe militar, instalando um ditador “pró-americano”, da
direita. A CIA então treinaria a trama de segurança do ditador para reprimir os
inimigos tradicionais dos grandes negócios, usando frequentemente o
interrogatório, a tortura e o assassinato. As vítimas eram designadas como “comunistas”,
mas quase sempre eram apenas camponeses ou liberais moderados, líderes
sindicais, estudantes, nacionalistas, oponentes e defensores da liberdade de
expressão e da democracia. Geralmente, seguiam-se abusos generalizados dos
direitos humanos, envolvendo o uso de “esquadrões da morte”.(13) As vítimas ficaram,
muitas vezes, conhecidas como “os desaparecidos”.
As histórias sangrentas do Chile
e da Argentina e de inúmeras outras ditaduras “pró-americanas”, durante a
Guerra Fria, foram decalcadas daquele molde cruel.
Truman
Cria a ‘Segurança Nacional do Estado’
O início da carreira de Frank
Wisner, advogado da Wall Street e agente dos serviços secretos, exemplificava os
métodos antigos. Em 1947, o Presidente Harry Truman havia assinado o estatuto que
criava a CIA (Agência Central de Inteligência) como braço do Poder Executivo,
uma agência absolutamente imune à supervisão do Congresso e completamente
escondida do escrutínio público. As duas palavras “segurança nacional” eram
usadas para encobrir tudo. Foi o nascimento do que viria a ser a Segurança
Nacional do Estado Americano, um mundo em que todos os crimes imagináveis
seriam justificados em nome da “segurança nacional” e da suposta ameaça da “insubordinação
comunista global”.
Frank Wisner tinha sido
recrutado em 1948, no nascimento da CIA, para chefiar o falso Gabinete de
Coordenação Política/ Office of Policy Coordination (OPC). Na realidade, o OPC
era o braço das operações secretas da agência. De acordo com os termos de sua
carta secreta, as suas responsabilidades abrangeriam “propaganda, guerra económica,
acção directa preventiva, incluindo procedimentos de sabotagem, anti-sabotagem,
demolição e evacuação; subversão contra os Estados hostis, incluindo
assistência a grupos de resistência clandestina, e apoio a elementos indígenas
anti-comunistas, nos países ameaçados do mundo livre.” (14)
No final de 1948, Wisner
estabeleceu a Operação Mockingbird, um projecto planeado para influenciar
ilegalmente a comunicação mediática nacional e estrangeira. Em 1952, ele tornou-se
Chefe da Directoria dos Planos, onde controlava 75% do orçamento da CIA. Portanto,
foi fundamental na queda de Mohammed Mossadegh, no Irão e Jacobo Arbenz Guzmán,
na Guatemala. (15)
Noutras operações de golpes de
Estado, a CIA empregou atiradores de elite, assassinos cruéis com um pouco mais
de sofisticação do que os assassinos da máfia - na verdade, usando mesmo a máfia, em alguns casos.(16)
O problema era que os métodos da
CIA para eliminar chefes de Estado populares, durante as décadas de 1950 e
1960, todos justificados em nome da “guerra contra a disseminação do comunismo
ateu”, não eram somente ineficientes, mas resultavam, muitas vezes, num ataque contra os Estados Unidos, que custou mais do que beneficiou
Washington. O “Farol da Liberdade” dos Estados Unidos, ficaria manchado,
sistematicamente, pela exposição das suas operações secretas, quer pela inveja
do Director do FBI, J. Edgar Hoover, quer pela comunicação mediática
estrangeira ou pela oposição local, nos países atingidos.
As operações da CIA eram praticamente
descontroladas; chegou a extremos para avançar a sua versão do Século
Americano. Ao começar, na década de 1950, por exemplo, com fundos secretos do
Departamento de Educação e Bem-Estar da Saúde, de Nelson Rockefeller, a CIA
envolveu-se num programa denominado “MK-ULTRA”. Apresentado como sendo necessário
para responder às alegações de “lavagem cerebral” dos Soldados americanos, na
Coreia do Norte, a CIA começou as experiências sobre o “controlo da mente”. As
alegações de lavagem cerebral norte coreana foram fabricadas, como revelaram
pesquisas posteriores, para justificar esse programa depois da sua criação. Na
época, não havia evidências de tal lavagem cerebral, nem houve nenhuma desde
então.
O programa da CIA envolveu a
administração de LSD e de outras drogas a cidadãos americanos sem o seu
conhecimento ou contra a sua vontade, fazendo com que vários cometessem
suicídio.
A operação MK-ULTRA foi financiada secretamente pela Rockefeller Foundation, (17) bem como pelos fundos
especificamente destinados aos projectos de fachada da MK-ULTRA, por Nelson
Rockefeller - então Subsecretário da Saúde, Educação e Bem-Estar do Presidente
Eisenhower e, mais tarde, seu assistente especial para a estratégia da Guerra
Fria e da guerra psicológica. Além de tentativas de “controle mental” com drogas,
o MK-ULTRA envolveu pesquisas sobre métodos eficazes de propaganda, lavagem
cerebral, relações públicas, publicidade, hipnose e outras formas de sugestão.(18)
A partir da década de 1960,
alguns membros da comunidade dos serviços secretos dos EUA começaram a ver as
possibilidades de uma forma inteiramente nova de mudança clandestina de regime.
De
Tavistock para a Rand
Em 1967, o Chefe das Relações Humanas, do Instituto Tavistock, em Londres, era um indivíduo chamado Dr. Fred
Emery, perito em “efeitos hipnóticos” da televisão. O Dr. Emery ficou
particularmente impressionado com o que observou sobre o comportamento da
multidão, em concertos de rock, que eram, na época, um fenómeno relativamente
novo. Emery referiu-se ao público como sendo um “enxame de adolescentes”. Estava
convencido de que esse comportamento poderia, efectivamente, ser refinado e
usado para derrubar governos hostis ou pouco cooperativos. Emery escreveu um
artigo sobre esse assunto, no jornal do Instituto Tavistock, ‘Relações Humanas’, que intitulou, “Os
Próximos Trinta Anos: Conceitos, Métodos e Antecipações”. O artigo descrevia,
detalhadamente, maneiras de canalizar ou manipular directamente o que ele
designou como ‘histeria rebelde’. ”Foi, precisamente, o que os estudos da RAND
mais tarde observaram e manufacturaram como“ swarming/enxame”. (19)
Após a Primeira Guerra Mundial,
as forças armadas britânicas criaram o Instituto Tavistock para servir como o seu
braço de guerra psicológica. O Instituto recebeu o nome do duque de Bedford,
Marquês de Tavistock, que doou um prédio ao Instituto, em 1921, para estudar o
efeito do choque das bombas nos soldados britânicos que sobreviveram à Primeira
Guerra Mundial. No entanto, o seu objectivo não era ajudar os soldados traumatizados,
mas estabelecer o “ponto de ruptura” dos homens sob stress. O programa estava
sob a direcção do Departamento do Exército Britânico de Guerra Psicológica.
Durante algum tempo, Sigmund Freud trabalhou com Tavistock em métodos
psicanalíticos aplicados a indivíduos e a grandes grupos.
Depois da Segunda Guerra
Mundial, a Fundação Rockefeller ofereceu-se para financiar o Instituto Tavistock
e, com efeito, atrair os seus programas para os Estados Unidos e as suas actividades
sobre guerra psicológica.(20) A Fundação Rockefeller forneceu uma infusão de
fundos para os estudos financeiramente debilitados do Tavistock, recentemente
reorganizado como Instituto Tavistock de Relações Humanas. A agenda de
Rockefeller era delinear “sob condições de paz, o tipo de psiquiatria social
que se desenvolveu no exército em condições de guerra”. (21)
Foi uma reviravolta fatal.
O Instituto Tavistock começou, imediatamente,
a trabalhar nos Estados Unidos, enviando o seu principal investigador, o
psicólogo nascido na Alemanha, Kurt Lewin, ao Instituto de Tecnologia de
Massachusetts, em 1945, para estabelecer o Centro de Pesquisa para a Dinâmica
de Grupo. Lewin estava interessado no estudo científico dos processos que
influenciam os indivíduos em situações de grupo e é amplamente creditado como sendo
o fundador da “psicologia social”. Após a morte de Lewin, o Centro mudou-se
para a Universidade de Michigan em 1948, onde se tornou o Instituto de
Psicologia Social.(22)
Então, os conhecimentos de 1967, de Fred Emery sobre multidões, pareceram validados pelas grandes revoltas
estudantis em Paris, em Maio de 1968. Milhares de 'enxames de adolescentes’
transformaram-se num movimento de milhões, desestabilizando o governo francês e
derrubando o Presidente Charles de Gaulle.(23) Este derramamento ‘espontâneo’ foi
estudado de perto pelo Instituto Tavistock e por várias agências de inteligência dos EUA,
sobre métodos, padrões e tácticas que seriam desenvolvidas e concretizadas
durante as três décadas e meia seguintes, pela comunidade de inteligência dos
EUA.(23)
{Nota da Trad: É de ter em
consideração que o Presidente de Gaule, retirou a França da NATO, o que Washington considerou intolerável, portanto, a meu ver, era uma boa oportunidade para pôr
em prática as técnicas de ‘swarming/enxame’.Ver https://pt.mondediplo.com/spip.php?article176 e, novamente, anexada à NATO em 2009 por Sarkozy https://www.esquerda.net/content/fran%C3%A7-regressa-ao-comando-militar-da-nato}
Enxameação
desde a Sérvia até à Geórgia
O êxito alcançado pelos EUA ao
afastar o tenaz Slobodan Milosevic como Presidente da Sérvia, em 2000, provou
ao Departamento de Estado dos EUA e à comunidade de serviços
secretos, que o novo modelo secreto, de mudança de regime por meio de golpes de
Estado não-violentos, funcionava. Parecia ser o modelo perfeito para eliminar
regimes opostos à política dos EUA. Não importava que esse regime fosse popular
ou democraticamente eleito. Qualquer regime era vulnerável aos novos métodos de
guerra do Pentágono - as técnicas de “enxame” e de “revolução colorida”, da
RAND.
Alguns meses após ser
bem-sucedido a supervisionar a criação da Revolução sérvia Otpor!, o chefe da
diplomacia dos EUA, em Belgrado, o Embaixador Richard Miles, foi enviado para a
sua nomeação seguinte, a minúscula República da Geórgia nas montanhas do Cáucaso,
na Ásia Central.(27) Normalmente, um posto na Geórgia - um pequeno Estado no mar
Negro, administrado por uma veterano da era soviética, Edouard Shevardnadze -
teria sido considerado um passo para baixo numa carreira típica do Departamento
de Estado. Não por milhas. A sua tarefa era supervisionar uma repetição da
revolução de Belgrado em Tbilisi, na Geórgia.(28) Em Tbilisi, Miles foi
apresentado ao seu famoso aluno georgiano, Mikheil Saakashvili, um produto da
Columbia University Law School, da George Washington University Law School e Par
do Departamento do Estado americano. Na época, em 2002, Saakashvili era Ministro
da Justiça da Geórgia, sob o comando do Presidente Eduard Shevardnadze; Miles
iria orientar Saakashvili sobre como derrubar o seu Chefe.(29)
Miles recebeu uma assistência enorme
das ONGs vinculadas ou financiadas pelo governo dos EUA, incluindo a National
Endowment for Democracy, a organização que parecia estar presente em todos os
grandes golpes dos EUA ou operações de mudança de regime, desde os anos 80.(30)
Segundo Mowat, também se destacou na Geórgia, a Open Society Foundation,
dirigida pelo bilionário norte-americano George Soros e a Freedom House,
sediada em Washington, criada na década de 1940, como organização de propaganda
da NATO e, em 2001, chefiada pelo antigo Director da CIA, James Woolsey.
O Departamento de Estado dos EUA
usou, frequentemente, ONGs nas suas máquinas de golpe de Estado ao longo dos
anos: na deposição do Presidente Fernando Marcos das Filipinas, em 1986, ou na
desestabilização da Praça Tiananmen, em 1989, e na “revolução de veludo” de
Vaclav Havel, na Checoslováquia, em 1989. Então, as tácticas um tanto
grosseiras das décadas anteriores foram aumentadas pelos refinamentos das
técnicas de enxameamento da RAND, mensagens de texto SMS e telemóveis/celulares,
e os estudos de Gene Sharp sobre o que ele designou como a “não-violência como
um método de guerra”.(31)
Dentro e à volta dos protestos
estudantis não-violentos, na Praça da Paz Celestial, em 1989, tanto a
Instituição Albert Einstein, de Gene Sharp, como o Fundo para a Reforma e Abertura
da China, de George Soros, estiveram aparentemente presentes. De facto, Gene
Sharp, admitiu estar em Pequim pouco antes da eclosão dos protestos estudantis
não violentos na Praça Tiananmen.(32) O governo chinês da época, acusou
abertamente a fundação de Soros de ter laços com a CIA, forçando-a a sair do
país.(33)
A Albert Einstein Institution,
de Sharp, desempenhou, inequivocamente, um papel importante na formação e
educação dos movimentos juvenis nos países do pacto de Varsóvia e também na
Ásia.(34) Segundo o pesquisador Jonathan Mowat, a organização de Sharp foi
financiada, em parte, pelas fundações de Soros e pela National Endowment for Democracy
entre outras.(35) No seu próprio site, o Instituto de Sharp admitiu estar activo
com grupos de oposição ‘pró-democracia’ em vários países, incluindo Birmânia,
Tailândia, Tibete, Letónia, Lituânia, Estónia, Bielorrússia, bem como na Sérvia.(36)
Convenientemente, os seus países-alvo coincidiram inteiramente com os
objectivos do Departamento de Estado dos EUA para mudança de regime, durante o
mesmo período de tempo. A palavra “democracia”, como bem sabiam os antigos
oligarcas gregos, era uma faca de dois gumes que podia ser manipulada contra os
opositores, ou contra a fúria dirigida de uma turba enfurecida.
Entre os conselheiros do
Instituto de Sharp, na ocasião da operação ‘Otpor!’ da Sérvia, além do Coronel
Helvey, havia um especialista em serviços secretos/inteligência dos EUA, o Major
General Edward B. Atkeson, oficial aposentado do Exército dos EUA. (37) Antigo Chefe
Adjunto dos Serviços Secretos do Estado Maior (Deputy Chief of Staff
Intelligence), do Exército dos EUA na Europa e membro do National Intelligence
Council, sob o Director da CIA, o General Atkeson também serviu no Gabinete de
Assuntos Político-Militares, do Departamento de Estado. Outro assessor da
Albert Einstein Institution, de Sharp, foi o antigo Almirante Gene R. La
Rocque, chefe do Center for Defense Information. (38)
Assim como as coisas estavam a
aquecer na Geórgia, onde a Instituição Albert Einstein estava a desempenhar um papel, outra parte
vital da antiga União Soviética foi subitamente adicionada à 'lista de alvos'
de Washington. A Ucrânia, no coração da Rússia étnica, também se tornava agora num alvo para uma Revolução Colorida, apoiada pelos EUA.
A
revolução Laranja na Ucrânia e a Política dos Oleoductos/Condutas
A Ucrânia e a Rússia estavam tão
interligadas económica, social e culturalmente, especialmente no leste do país,
que eram quase indistinguíveis uma da outra. A maioria dos gasoductos da Rússia
da Sibéria Ocidental fluía pela Ucrânia a caminho da Alemanha, da França e de outros Estados da Europa Ocidental. Em termos estratégicos militares, uma Ucrânia
não neutra inserida na NATO, representaria um golpe fatal para a segurança da
Rússia. Na era das armas nucleares avançadas dos EUA e das defesas antimísseis,
era exactamente o que o governo Bush queria.
Uma leitura de um mapa de
geografia eurasiática revelou um padrão distinto para as Revoluções Coloridas,
patrocinadas por Washington depois de 2000. Elas visavam claramente isolar a
Rússia e, em última análise, cortar a sua linha de vida econômica - as suas
redes de canalizações que transportavam as enormes reservas de petróleo e gás
natural da Rússia, dos Montes Urais e da Sibéria para a Europa Ocidental e para
a Eurásia - directamente através da Ucrânia.
A
Rússia está a ser cercada pelos países da NATO e se a Ucrânia se unir à NATO,
representaria um golpe devastador para a segurança económica e militar russa.
A transformação da Ucrânia de
antiga república russa em satélite pró-NATO foi realizada pela designada “Revolução
Laranja”, em 2004, supervisionada por John Herbst, nomeado Embaixador dos EUA
na Ucrânia, em Maio de 2003. Como o Departamento de Estado dos EUA descreveu
eufemisticamente as suas actividades:
Durante o seu mandato, trabalhou
para melhorar as relações EUA-Ucrânia e para ajudar a garantir a realização de
uma eleição presidencial ucraniana justa. Em Kiev, testemunhou a Revolução
Laranja. Anteriormente, o Embaixador John Herbst foi embaixador dos EUA no
Uzbequistão, onde desempenhou um papel fundamental no estabelecimento de uma
base americana para ajudar a conduzir a Operação Liberdade Duradoura (Operation
Enduring Freedom)no Afeganistão.(39)
O homem que Washington decidiu
apoiar na sua mudança de regime orquestrada na Ucrânia, foi Viktor Yushchenko,
um antigo governador do Banco Central da Ucrânia, de cinquenta anos de idade. A
esposa de Yushchenko, Kateryna, uma cidadã americana nascida em Chicago, tinha
tido uma posição de responsabilidade tanto na Administração Reagan, como na
Administração de George H.W. e no Departamento de Estado dos EUA. Ela foi à
Ucrânia como representante da Fundação US-Ukraine, cujo Conselho de
Administração incluía Grover Norquist, um dos republicanos conservadores mais
influentes em Washington. Norquist foi apelidado de “Director Administrativo
da extrema direita”, ao apoiar a presidência de George W. Bush.(40)
O foco central da campanha de Yushchenko
para presidente, era defender a adesão da Ucrânia à NATO e à União Europeia. A
sua campanha utilizou enormes quantidades de faixas, bandeiras, cartazes,
balões e outros adereços de cor laranja, levando a comunicação mediática,
inevitavelmente, a apelidá-la de “Revolução Laranja”. Washington financiou
grupos de jovens “pró-democracia” que desempenharam um papel particularmente
significativo na organização de grandes manifestações de ruas que o ajudaram a
vencer a segunda volta de uma eleição duvidosa.
Na Ucrânia, o movimento
pró-Yushchenko agiu usando o slogan Pora ("É tempo") e trouxe pessoas
que haviam ajudado a organizar a “Revolução Rosa” na Geórgia: o Presidente
da Comissão Parlamentar da Defesa e Segurança da Geórgia, Givi Targamadze;
antigo membro do Instituto da Liberdade da Geórgia; bem como membros do grupo
de jovens da Geórgia, Kmara. Os georgianos foram consultados por líderes da
oposição ucraniana sobre técnicas de luta não violenta. As bandas de rock
georgianas Zumba, Soft Eject e Green Room, que apoiaram a “Revolução Rosa”,
organizaram um concerto de solidariedade no centro de Kiev, para apoiar a
campanha de Yushchenko, em Novembro de 2004.(41)
Uma empresa de relações públicas,
com sede em Washington, chamada Rock Creek Creative, também desempenhou um
papel significativo na marca da Revolução Laranja, desenvolvendo um site a
favor de Yushchenko, em torno do tema e do logotipo laranja. (42)
No terreno, vários elementos
trabalharam em conjunto para criar uma aura de fraude em torno da eleição de
2004, que Yuschchenko tinha perdido, a fim de mobilizar o apoio popular para uma
segunda volta. Usando o Pora e outros grupos de jovens, especialmente monitores
de eleições, em coordenação com importantes meios de comunicação mediática ocidentais,
como a CNN e a BBC, foi organizada uma segunda eleição que permitiu a Yushchenko
sair com uma estreita margem de vitória, em Janeiro de 2005 e declarar-se
presidente. O Departamento de Estado dos EUA gastou cerca de 20 milhões de
dólares na Presidência da Ucrânia.(43)
As mesmas ONGs apoiadas pelo
governo dos EUA que estiveram na Geórgia, também produziram resultados na
Ucrânia: a George Soros Open Society Institute; a Freedom House; e a National
Endowment for Democracy, juntamente com as suas duas subsidiárias, o Instituto
Nacional Republicano e o Instituto Nacional Democrata. De acordo com relatórios
ucranianos, as ONGs norte-americanas, juntamente com a conservadora US-Ukraine
Foundation, estiveram activas em toda a Ucrânia, a alimentar o movimento de protesto
do Pora e do Znayu e a treinar observadores das eleições.(44)
A certa altura, em 2004, após os
êxitos de Washington na Geórgia e na Ucrânia, Putin, da Rússia, passou a
centralizar o controlo sobre o activo estratégico que a Rússia possuía e do
qual os países NATO, da Europa Ocidental precisavam - energia. A Rússia era, de
longe, o maior produtor mundial de gás natural.
A Guerra das Condutas da Eurásia
A agenda
escondida das políticas agressivas de Washington, na Ásia Central, após o
colapso da União Soviética, poderia ser resumida numa única frase: controlo da energia.
Enquanto a Rússia for capaz de usar o seu trunfo estratégico – as suas reservas
enormes de petróleo e de gás - para conquistar aliados económicos na Europa
Ocidental, na China e noutros lugares, ela não poderá estar isolada
politicamente. A localização das várias Revoluções Coloridas visava, directamente.
cercar a Rússia e cortar, a qualquer momento, os seus oleoductos de exportação.
Com mais de sessenta por cento da exportação da Rússia em dólares, provenientes
das suas exportações de petróleo e gás, tal cerco equivaleria a um
estrangulamento económico da Rússia, efectuado pela NATO, liderada pelos EUA.
A Geopolítica das condutas na região da Ásia
Central, coloca os EUA e a Grã-Bretanha contra a Rússia e contra a China, com
um potencial elevado de conflito
A revolução
colorida na minúscula República da Geórgia e o esforço para atrair a Geórgia
para a NATO sob a égide do novo Presidente Mikheil Saakashvili, treinado pelos
EUA, em parte, visava assegurar uma nova rota do oleoducto para aproximar as
vastas reservas de petróleo do Mar Cáspio, próximo de Baku, no Azerbaijão. A
British Petroleum (BP) assegurou o papel principal no desenvolvimento de
enormes campos de petróleo offshore, perto de Baku, logo após a dissolução da
União Soviética no início da década dos anos 90.
Com o
apoio de Washington, desde a Administração Clinton, a BP procurou construir um
oleoducto que, de alguma forma, evitaria o trânsito pela Rússia. Devido ao
terreno montanhoso, a única rota desse tipo era Baku, através da Geórgia via
Tbilisi e depois através do Mar Negro até a Turquia, membro da NATO, onde se
ligaria com um oleoducto até ao porto turco mediterrânico de Ceyhan.
As riquezas petrolíferas da Rússia e da Ásia
Central dependem de oleoductos para chegar ao mercado num ponto onde a NATO
pretende controlar o acesso russo através da Ucrânia e da Geórgia.
O oleoducto
Baku-Ceyhan foi originalmente proclamado pela BP e por outros como sendo “O
Projecto do Século”. Zbigniew Brzezinski era consultor da BP durante a era
Clinton, pressionando Washington para apoiar o projecto da BP. Foi Brzezinski
que foi a Baku, em 1995, não oficialmente, em nome do Presidente Clinton, para
se encontrar com o presidente azeri, Haidar Aliyev e negociar as novas rotas do
oleoducto independente de Baku, incluindo o que se tornou o oleoducto B-T-C ou
Baku-Tbilisi-Ceyhan.
Em 2003,
a Rússia tornou-se no segundo maior produtor mundial de petróleo bruto, depois
da Arábia Saudita. Durante a era soviética, as economias da Ucrânia, Geórgia,
Rússia, Cazaquistão, Azerbaijão e outras repúblicas da URSS estavam totalmente
integradas economicamente. Depois da União Soviética entrar em colapso, no
início dos anos 90, os seus gasoductos e oleoductos e rotas de exportação em
toda a Eurásia, continuaram a funcionar. Além do mais, as antigas regiões
soviéticas, incluindo a Ucrânia, continuaram a receber gás russo através do
monopólio estatal de gás, Gazprom, a preços altamente subsidiados, muito abaixo do
preço cobrado na Europa Ocidental.
ONGs patrocinadas pelos EUA
Zbigniew
Brzezinski faz parte do Conselho de Administração de uma organização pouco expressiva
e pouco conhecida, a Câmara de Comércio EUA-Azerbaijão (USACC). O presidente da
USACC em Washington, era Tim Cejka, presidente da ExxonMobil Exploration. Os
membros do Conselho da USACC, além de Brzezinski, incluíam Henry Kissinger,
Brent Scowcroft e James Baker III. Scowcroft fora Conselheiro da Segurança Nacional
dos Presidentes Nixon, Ford, Bush Sr. e Bush Jr. Baker foi o indivíduo que
viajou a Tbilisi, em 2003, para dizer pessoalmente a Shevardnadze que Washington
queria que ele se afastasse a favor de Shaakashvili, treinado pelos Estados
Unidos. Dick Cheney era um antigo membro do Conselho da USACC, antes de se
tornar Vice Presidente.
Seria
difícil imaginar uma equipa mais pesada de manipuladores do poder
geopolítico de Washington. Basta dizer que as elites do poder de Washington não
desperdiçariam o seu tempo, nem se concentrariam dessa maneira, a não ser que
essa área fosse da máxima importância estratégica e geopolítica.
Outra ONG que apareceu, invariavelmente, em cada uma
das mudanças de regime de Revolução Colorida foi a Freedom House. Juntamente com os
Institutos Open Society de George Soros, NED financiada pelos EUA e outros, a
ONG curiosamente designada por Freedom House, apareceu em toda a parte.
A
Freedom House era uma organização com um nome que soava a nobreza e com uma
longa história. Foi criada no final da década de 1940, como sendo um lobby dos
EUA para organizar a opinião pública a favor da criação da NATO. O presidente
da Freedom House, na época das Revoluções Coloridas da Geórgia e da Ucrânia,
era James Woolsey, antigo Director da CIA e neoconservador, que declarou ao
mundo, que o 11 de Setembro de 2001 foi o início da “Quarta Guerra Mundial”.(45)
Woolsey definiu a Guerra Fria como sendo a III Guerra Mundial.
Outros
curadores e financiadores da Freedom House incluíam Zbigniew Brzezinski e
Anthony Lake, Conselheiros de Política Estrangeira dos Presidentes Carter,
Clinton e Obama. A Freedom House também enomerou, entre seus contribuintes
financeiros, o Departamento de Estado dos EUA, a USAID, a Agência de
Informações dos EUA, as Fundações da Soros Open Society e da omnipresente
National Endowment for Democracy (NED). (46)
A NED,
juntamente com a Freedom House, esteve no centro de todas as “revoluções
coloridas” principais na Eurásia, desde 2000. Tinha sido criada durante a
Administração Reagan para funcionar como uma CIA de facto, privatizada de forma a permitir mais liberdade de acção.(47)
Allen Weinstein, que ajudou a redigir a legislação que estabelece a NED, disse
numa entrevista, em 1991: “Muito do que fazemos hoje, foi feito secretamente há
25 anos, pela CIA.” (48)
O
Presidente da NED, desde 1984, era Carl Gershman, que já havia sido bolsista da
Freedom House. O General da NATO e antigo candidato presidencial, Wesley Clark,
o homem que liderou o bombardeio americano da Sérvia, em 1999, também se sentou
no Conselho da NED.
A
maioria das figuras históricas ligadas às acções clandestinas da CIA foram, em
algum momento, membros do Conselho de Directores ou do Conselho Administrativo
da NED, incluindo Otto Reich, John Negroponte, Henry Cisneros e Elliot Abrams.
O Presidente do Conselho de Directores da NED, em 2008, era Vin Weber, fundador
da organização ultraconservadora Empower America, e arrecadador de fundos da
campanha de George W. Bush, em 2000.(49)
Gershman,
chefe da NED desde a sua criação até ao presente, não era um funcionário
público comum. Tinha sido um dos membros principais, durante a década de 1970,
de algo chamado Social Democrats-EUA, onde trabalhou em estreita colaboração
com Richard Perle, Elliott Abrams e Frank Gaffney. Gershman esteve, em certo
sentido, “presente na criação” da facção da inteligência política conhecida,
mais tarde, como neoconservadorismo. A organização NED, até 2007, esteve
envolvido na distribuição de fundos do governo dos EUA para selecionar grupos
em mais de 90 países. O ‘think-tank’ neoconservador, o American Enterprise
Institute, e o antigo senador Bill Frist (R-TN) estavam entre os membros do
Conselho de Directores da NED.
Sob a
liderança de Gershman, a NED esteve inúmeras vezes envolvida em operações para
promover a mudança de regime de governos cujas políticas, de uma forma ou de
outra, colidiam com uma prioridade particular de Washington. Em 2004, a NED
esteve envolvida numa tentativa de golpe de Estado, patrocinada pelos EUA
contra o novo Presidente da Venezuela, Hugo Chavez, eleito democraticamente.
Depois de Hugo Chávez vencer com facilidade um referendo, em Agosto de 2004,
sobre sua presidência, surgiram acusações sobre o papel da NED, no apoio a
grupos contra Chavez. Uma figura chave na tentativa do golpe de Estado, foi o Secretário
de Estado Adjunto de Bush para o Hemisfério Ocidental, Otto Juan Reich, nascido
em Cuba. Reich, um antigo lobista de Washington para empresas militares como
McDonnell Douglas e Lockheed-Martin, também era membro do conselho do
controverso Instituto do Hemisfério Ocidental para Cooperação em Segurança,
mais conhecido como a Escola das Américas, onde o Pentágono treinou a maior
parte dos ‘Esquadrões da morte’ latino-americanos.(51)
A
National Endowment for Democracy foi o veículo que foi usado em múltiplos e
diversos países para promover a agenda de Washington do Domínio do Espectro Total.
A Geografia Política da Eurásia
Um olhar
mais atento ao mapa da Eurásia começava a sugerir o que estava em jogo para
Washington, na Eurásia. O objectivo não foi apenas o cerco estratégico da
Rússia por meio de uma série de bases da NATO, desde Camp Bond Steel, no
Kosovo, até à Polónia, à República Checa, e possivelmente a Geórgia e a
Ucrânia. Todo esse bloqueio tinha como objectivo primordial, permitir que a
NATO controlasse as rotas e as redes de energia entre a Rússia e a União Europeia.
A
estratégia de Washington dos golpes de Estado “democráticos” - as revoluções
coloridas na Geórgia e na Ucrânia - foi projectada estrategicamente para
impedir a China de aceder às reservas vitais de petróleo e gás do Mar Cáspio,
incluindo o Cazaquistão e, finalmente, a Rússia.
As
antigas rotas de comércio da Ásia e, especificamente, a Grande Rota da Seda,
passaram por Tashkent, no Uzbequistão, e Almaty, no Cazaquistão. Numa região
cercada por grandes cadeias de montanhas, o controle geopolítico do
Uzbequistão, do Quirguistão e do Cazaquistão permitiria o controlo de qualquer
potencial rota de oleoducto entre a China e a Ásia Central. Assim, também, o
cerco da Rússia permitiria o controlo das condutas e outras ligações entre a
Rússia e a Europa Ocidental e o Médio Oriente.
Nesse
contexto, um artigo do ‘Foreign Affairs’ de Zbigniew Brzezinski, em Setembro de
1997, revelou a verdadeira estratégia geopolítica de Washington em relação à
Eurásia:
A
Eurásia é o lar da maioria dos Estados politicamente positivos e dinâmicos do
mundo. Todos os pretendentes históricos ao poder global se originaram na
Eurásia. Os aspirantes mais populosos do mundo à hegemonia regional, China e
Índia, estão na Eurásia, assim como todos os potenciais adversários políticos
ou económicos à superioridade americana. Depois dos Estados Unidos, as seis
maiores economias e gastadores militares estão lá, assim como todas, excepto
uma das potências nucleares do mundo, e todas excepto uma das encobertas. A
Eurásia é responsável por 75% da população mundial, 60% do PNB e 75% dos recursos energéticos. Colectivamente, o poder potencial da Eurásia
obscurece até o da América.
A
Eurásia é o super-continente axial do mundo. Uma potência que dominasse a
Eurásia, exerceria influência decisiva sobre duas das três regiões
economicamente mais produtivas do mundo, a Europa Ocidental e a Ásia Oriental.
Uma observação do mapa também sugere que um país dominante na Eurásia,
controlaria quase que automaticamente o Médio Oriente e a África. Com a Eurásia
a servir agora, como tabuleiro de xadrez geopolítico decisivo, já não basta
moldar uma política para a Europa e outra para a Ásia. O que acontece com a
distribuição do poder na massa de terra eurasiática será de importância decisiva
para a superioridade global da América... (52)
A seguir:
Parte 2
Começa Uma Nova Guerra Fria Devido ao Petróleo
Tradutora: Maria Luísa de Vasconcellos
Email: luisavasconcellos2012@gmail.com
Parte 2
Começa Uma Nova Guerra Fria Devido ao Petróleo
Tradutora: Maria Luísa de Vasconcellos
Email: luisavasconcellos2012@gmail.com
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