Com
a nossa experiência e resistindo à conjuntura política do momento, vamos
continuar a promover uma agenda bilateral voltada para o futuro.
24
de Novembro de 2018, 7:20
Lisboa
é um nosso bom parceiro internacional. O alicerce dos laços russo-portugueses é
formado pelo Tratado de Amizade e Cooperação de 22 de Julho de 1994. Graças aos
esforços conjuntos foi possível alcançar resultados palpáveis. Tem--se
promovido o diálogo político, inclusive ao nível mais alto. A 20 de Junho
realizaram--se em Moscovo as conversações entre os presidentes Vladimir Putin e
Marcelo Rebelo de Sousa. Contactos ao nível dos ministérios dos Negócios
Estrangeiros têm tido um carácter regular. A concretização na prática do
memorando interministerial sobre a realização de consultas, assinado no quadro
da minha reunião com o colega português, Augusto Santos Silva, contribuirá para
o ainda maior estreitamento deste diálogo.
O
comércio bilateral mostra uma dinâmica positiva que no final deste ano pode
ultrapassar 1,5 mil milhões de dólares. A Comissão Intergovernamental Mista
sobre a Cooperação Económica e Técnica faz uma contribuição proveitosa neste
sentido. No decorrer da 7.ª sessão da comissão, que terá lugar em Lisboa daqui
a duas semanas, será prestada uma atenção especial à área de altas tecnologias,
bem como à realização do Acordo Intergovernamental sobre a Cooperação Económica
e Técnica, assinado no ano passado.
Na
Web Summit que há pouco terminou em Lisboa, a Rússia foi representada por mais
de 200 empresas e start-ups. À margem desta conferência foi
organizado o primeiro fórum empresarial russo-português Novas Oportunidades e
Desafios na Esfera de Inovações. Estou convencido de que encontros deste género
devem ser realizados regularmente.
Tem-se
aprofundado o intercâmbio cultural e humanitário, contactos entre pessoas.
Desde Dezembro de 2017 até Fevereiro de 2018 esteve instalada nos Museus do
Kremlin de Moscovo a exposição inédita Senhores do Oceano. Tesouros do
Império Português dos Séculos XVI-XVIII, considerada a mais representativa
a ser organizada fora do território do vosso país. Em Outubro de 2018
realizou-se, com sucesso, a Semana da Cultura Russa em Portugal.
Saudamos
o interesse dos portugueses no ensino da língua russa. Pode ser estudada nas
universidades de Lisboa, Porto e Aveiro. Continua a ser demandada a actividade
dos centros dos estudos russos nas universidades de Coimbra e Minho. A língua
de Camões, por sua vez, está a ser ensinada nas universidades e escolas de
Linguística da Rússia, inclusive a minha alma mater —
Universidade Estatal das Relações Internacionais de Moscovo.
Hoje
há cada vez mais turistas russos a descobrir Portugal, a conhecer o seu
património histórico-cultural rico e peculiar. E é o amor pelo futebol que
contribui para o aumento da simpatia entre os dois povos. Neste Verão,
numerosos adeptos portugueses visitaram o nosso país no quadro do campeonato
mundial FIFA 2018. Eles tiveram a oportunidade de ver com os seus próprios
olhos a vida quotidiana da Rússia e dos seus cidadãos. Creio que perceberam
quão a situação real se diferencia do que se pode ler, às vezes, em certos
meios de comunicação preconcebidos.
Infelizmente,
a situação mórbida no nosso continente comum representa ainda um obstáculo
significativo para o fortalecimento ulterior da cooperação russo-portuguesa. A
crise na Ucrânia — tendo sido o resultado de jogos geopolíticos dos EUA e dos
seus adeptos ideológicos em alguns países, tal como da cegueira da burocracia
da União Europeia — derrubou a atmosfera de confiança, na construção da qual
estiveram empenhados, durante muitos anos, líderes responsáveis da Rússia e dos
Estados-chave da Europa.
Foi
com extrema preocupação que Moscovo tomou nota do facto de Bruxelas não só ter
renunciado aos seus princípios e valores, fechando os olhos perante o golpe
armado em Kiev que resultou no derrube do Presidente democraticamente eleito,
mas também ter seguido as instruções de Washington, aderindo às sanções
anti-russas. O que temos hoje? A arquitectura do diálogo Rússia-UE está
prejudicada significativamente, os produtores europeus estão a ter perdas de
muitos mil milhões, o regime de Kiev está em guerra contra o próprio povo, um
novo conflito surgiu na Europa.
Ao
mesmo tempo, os EUA não estão a ter nenhumas perdas. Ainda mais, têm
aproveitado esta situação para incentivar a actividade militar perigosa perto
das fronteiras russas, intensificando a corrida armamentista na nossa
vizinhança, onde, como todos nós esperávamos, não há espaço para uma nova
Guerra Fria. A segurança das nações europeias torna-se refém da política
subversiva conduzida do outro lado do Atlântico.
A
tensão entre a Rússia e o Ocidente nos últimos anos, que custa caro à
estabilidade internacional, não é a nossa escolha. Como sempre, manifestamo-nos
a favor da construção na região euro-atlântica e na eurásia do espaço comum da
paz, da segurança igual e indivisível e da ampla cooperação económica, em que
seriam considerados os interesses de todos os Estados, quer participantes de
vários processos de integração, quer não, sem qualquer excepção.
Devido
a isto, não pode deixar de agradar o facto de ter aumentado na Europa o número
de pessoas que se dão conta de que o rumo de confrontação contra o nosso país
não tem perspectivas. Há quem aspire a realizar uma política pragmática e não
queira sacrificar o bem-estar dos seus cidadãos e o futuro pacífico do lar
europeu em prol dos interesses e ambições cobiçosas dos actores
extra-regionais. Esperamos que a sabedoria e, simplesmente, o bom senso
prevaleçam e as nossas relações com a União Europeia e os seus Estados-membros
sejam restabelecidas na base da boa vizinhança genuína, da honestidade,
previsibilidade e franqueza.
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