Discurso
de Vladimir Putin no Clube Internacional de Discussão de Valdai
Outubro 24, 2014, 19:00 Sochi
Vladimir Putin participou no plenário final do
encontro, na XI sessão do Clube Internacional de
Discussão de Valdai. O tema do encontro é a Ordem Mundial: Novas Regras
ou um Jogo sem Regras.
Este ano, 108 peritos, historiadores e analistas políticos de 25 países,
incluindo 62 elementos estrangeiros, participaram nos trabalhos do clube.
O plenário do encontro resumiu o trabalho do clube durante os três últimos
dias, e concentrou-se na análise dos factores de erosão do actual sistema de
instituições e das normas da lei internacional.
Excertos da transcrição do encontro do
plenário final da XI Sessão do Clube Internacional de Discussão de Valdai
PRESIDENTE DA RÚSSIA VLADIMIR PUTIN: Colegas, Senhoras
e Senhores, amigos, é um prazer dar-vos as boas-vindas no XI Encontro Do Clube
Internacional de Discussão de Valdai.
Já foi mencionado que, este ano, o Clube tem novos
organizadores, grupos de peritos e universidades de destaque. Também surgiu a
ideia de ampliar as discussões, não só sobre os assuntos relacionados com a
Rússia, mas também sobre a política e a economia mundiais.
Espero que estas mudanças na organização e conteúdo irão apoiar a
influência do Clube como sendo um fórum de discussão e de peritos da maior
importância. Ao mesmo tempo, espero que o ‘espírito Valdai’ permaneça – esta
atmosfera livre e aberta e a oportunidade de exprimir toda a espécie de
opiniões diversas e francas.
Deixem-me dizer a esse respeito, que também que não vos vou desiludir e
falarei directa e francamente. Algo do que vou dizer pode parecer um pouco
duro, mas se não falarmos directa e honestamente sobre o que realmente
pensamos, então não há uma razão objectiva para nos encontrarmos desta maneira.
Nesse caso, seria melhor manter, apenas, os encontros diplomáticos, onde
ninguém diz nada de sentido real e, recordando as palavras de um famoso
diplomata, vocês verificam que os diplomatas têm línguas para não falar a
verdade.
Reunimo-nos por outras razões. Juntamo-nos para
falarmos francamente uns com os outros. Hoje em dia, precisamos ser directos e
bruscos, não para atacarmos, mas para tentarmos ir ao fundo do que realmente
está a acontecer no nosso mundo, para tentarmos compreender por que motivo é
que o mundo está a tornar-se menos seguro e mais imprevisível, e por que é que
os riscos estão a aumentar em toda a parte e ao nosso redor.
A discussão de hoje teve lugar sobre o tema: Novas Regras ou Jogo sem
Regras? Penso que esta forma descreve perfeitamente o ponto de viragem que
alcançamos hoje, e a escolha que todos enfrentamos. Claro que não há nada de
novo, na ideia de que o mundo está a mudar muito rapidamente. Sei que é algo
que foi discutido hoje, nas vossas conversas. De facto, é difícil
não notar transformações dramáticas na economia e na política mundial, na vida
pública e na indústria, na informação e nas tecnologias sociais.
Deixai-me pedir, precisamente agora, que me perdoem se acabo por repetir o
que alguns participantes já disseram. É praticamente impossível evitá-lo. Vocês
já tiveram discussões pormenorizadas, mas irei definir o meu ponto de vista. Em
alguns pontos irá coincidir e noutros irá divergir do de outros participantes.
Enquanto analisamos a situação de hoje, não vamos esquecer as lições da
História. Primeiro que tudo, as mudanças na ordem do mundo – e hoje, o que
estamos a ver são os acontecimentos a esta escala - têm sido habitualmente
acompanhados, se não de uma guerra e conflito global, pelo menos por cadeias de
conflitos intensos a nível local. Segundo, a política global é, acima
de tudo, sobre a liderança económica, assuntos de guerra e paz, e a dimensão
humanitária, incluindo os direitos humanos.
Hoje o mundo está cheio de contradições. Temos de ser francos quando
perguntamos uns aos outros se temos uma rede de segurança fiável e bem
estabelecida. Infelizmente, não há garantia, nem certeza de que o actual
sistema de segurança global e regional seja capaz de nos proteger
das convulsões sociais. Este sistema tornou-se seriamente
enfraquecido, fragmentado e deformado. As organizações internacionais e
regionais de cooperação política, económica e cultural também estão a passar
por momentos difíceis.
Sim, muitos dos mecanismos que temos para assegurar a ordem mundial foram
criados há muito tempo, incluindo, e acima de tudo, no período imediatamente a
seguir à Segunda Guerra Mundial. Deixem-me salientar que a solidez do sistema
então criado, assentava não só no equilíbrio do poder e nos direitos dos países
vencedores, mas no facto de que os ‘pais fundadores’ tinham respeito uns pelos
outros, não tentavam esmagá-los, mas tentavam alcançar acordos.
O mais importante é que este sistema necessita desenvolver-se, e não
obstante vários atalhos, pelo menos, necessita ser capaz de manter os problemas
actuais do mundo dentro de certos limites e regular a intensidade da competição
natural entre países.
Estou convencido que não podemos tomar este mecanismo de equilíbrio de
poderes que construímos ao longo das últimas décadas, por vezes com muito
esforço e dificuldade, e inutilizá-lo simplesmente sem construir nada no seu
lugar. De outra maneira, seríamos deixados sem outros instrumentos a não ser a
força bruta.
O que necessitávamos fazer seria levar a cabo uma reconstrução racional e
adaptá-la às novas realidades do sistema de relações internacionais.
Mas os Estados Unidos, tendo-se declarado vencedores da Guerra Fria, não viram necessidade de
fazê-lo. Em vez de estabelecer um novo equilíbrio de poder, essencial para
manter a ordem e a estabilidade, deram passos que atiraram o sistema para um
desequilíbrio agudo e profundo.
A Guerra Fria acabou, mas não terminou com a assinatura de um tratado de
paz, com acordos claros e transparentes a respeito das regras existentes, ou
criando novas regras e padrões. Isso criou uma impressão de que os designados
‘vencedores’ da Guerra Fria decidiram pressionar os acontecimentos e reformular
o mundo de acordo com as suas necessidades e interesses. Se o sistema existente
de relações internacionais, de lei internacional e de sistemas de equilíbrio de
poderes, interferissem no caminho destes objectivos, esse sistema seria
declarado sem valor, desactualizado e com necessidade de ser imediatamente
demolido.
Perdoem a analogia, mas essa é a maneira como os ‘novos ricos’ se comportam
quando, de repente, se vêem possuidores de uma grande fortuna, neste caso,
representada pela liderança e domínio do mundo. Em vez de administrarem a sua
fortuna com sabedoria, claro que para seu benefício, penso que fizeram muitas
tolices. As interpretações arbitrárias e as avaliações tendenciosas
substituíram as normas legais.
Entramos num período de interpretações diversas e silêncios deliberados na
política mundial. A lei internacional foi forçada a recuar muitas vezes, devido
ao ataque do niilismo legal. A objectividade e a justiça foram sacrificadas no
altar dos expedientes políticos. As interpretações arbitrárias e as avaliações
sem imparcialidade substituíram as normas legais. Ao mesmo tempo, o controlo
total da comunicação mediática/mídia mundial tornou possível, quando desejado,
retratar o branco como preto e o preto como branco.
Numa situação em que vocês tinham o domínio de um país e dos seus aliados,
ou melhor, dos seus satélites, a procura de soluções globais muitas vezes
transformou-se numa tentativa de impôr as suas próprias receitas universais. As
ambições desse grupo cresceram de tal maneira, que começaram a apresentar as
políticas que criaram nos seus corredores do poder, como se representassem o
ponto de vista de toda a comunidade internacional. Mas não é este caso.
A própria noção de "soberania nacional" tornou-se um valor
relativo para a maioria dos países. Em essência, o que estava a ser proposto
era a fórmula: quanto maior for a lealdade para com centro de poder único do
mundo, maior é a legitimidade do regime, deste ou daquele governante.
Teremos depois uma discussão livre e ficarei satisfeito por responder às
vossas perguntas, assim como também gostaria de usar o meu direito de fazer-vos
perguntas. Deixem que alguém tente refutar os argumentos que vou estabelecer
durante a próxima discussão.
As medidas tomadas contra aqueles que recusam submeter-se são bem
conhecidas e têm sido experimentadas e testadas muitas vezes. Elas incluem o
uso da força, a pressão económica e a propaganda política, a intromissão nos
assuntos internos, e apelos a uma espécie de legitimidade "acima da
lei," quando precisam de justificar a intervenção ilegal, neste ou naquele
conflito, ou derrubar regimes inconvenientes. Ultimamente, temos cada vez mais
provas de que, pura e simplesmente, muita chantagem tem sido usada em relação a
um certo número de líderes. Não é à toa que o "Big Brother" está a
gastar biliões de dólares para manter o mundo sob vigilância, incluindo os
próprios aliados mais próximos.
Vamo-nos propor as seguintes interrogações: Quão confortáveis estamos com
estes acontecimentos? Quão seguros e felizes estamos por viver neste mundo?
Quão justo e racional é que ele se tornou? Não teremos motivos reais para nos
preocuparmos, discutirmos e fazermos perguntas embaraçosas? A posição
excepcional dos Estados Unidos e a maneira como eles estão a administrar a sua
liderança será, realmente, uma bênção para todos nós e a sua intromissão nos
acontecimentos em todo o mundo estará a trazer a paz, a prosperidade, o
progresso, o crescimento e a democracia? Deveríamos, talvez, apenas descontrair
e usufruir tudo isto?
Deixem-me dizer que não é esse o caso. De maneira nenhuma é esse o caso.
Um decreto unilateral e impor os seus próprios modelos, produz o resultado
oposto. Em vez de resolver conflitos, leva à sua escalada, em vez de Estados
soberanos e estáveis, vemos a crescente disseminação do caos e, em vez da
democracia, há o apoio a um público muito duvidoso que vai desde os
neo-fascistas declarados até aos radicais islamitas.
Por que é que eles apoiam essas pessoas? Fazem-no porque decidem usá-los
como instrumentos na busca para alcançar os seus objectivos, mas, em seguida,
queimam os dedos e recuam. Nunca deixo de me surpreender com a forma como os
nossos parceiros continuam a pisar no mesmo ancinho, como dizemos aqui na
Rússia, ou seja, a cometer o mesmo erro várias vezes.
Outrora, patrocinaram movimentos extremistas islâmicos para lutar contra a
União Soviética. Esses grupos adquiriram a experiência de batalha no
Afeganistão e mais tarde deram origem aos Talibã e à Al-Qaeda. Se o Ocidente
não os apoiou, pelo menos fechou os olhos, e, eu diria, deu informações, apoio
político e financeiro à invasão da Rússia por "terroristas internacionais
(não esquecemos isso) e aos países da região da Ásia Central. Somente após
ataques terroristas terríveis terem sido cometidos em solo americano, os
Estados Unidos acordaram para a ameaça comum do terrorismo. Deixem-me
lembrar-vos que fomos o primeiro país a apoiar o povo americano na época, os
primeiros a reagir como amigos e parceiros à terrível tragédia do 11 de
Setembro.
Falei sempre sobre a necessidade de combater o terrorismo em conjunto, como
um desafio à escala global. Não podemos resignar-nos e aceitar essa ameaça, não
podemos cortá-la em pedaços separados e usar padrões duplos. Os nossos
parceiros manifestaram acordo, mas passou algum tempo, e acabamos de volta onde
começámos. Primeiro, houve a operação militar no Iraque, depois na Líbia, que
foi levada à beira da desagregação. Por que é que a Líbia foi empurrada para
esta situação? Hoje é um país em risco de se decompor e tornou-se num campo de
treino de terroristas.
Apenas a determinação e a sabedoria da liderança egípcia actual salvou este
país-chave árabe do caos e de ter extremistas de forma desenfreada. Na Síria,
como no passado, os Estados Unidos e seus aliados começaram a financiar
directamente e armar os rebeldes, o que lhes permitiu preencher as suas
fileiras com mercenários de vários países. Deixem-me perguntar: Onde é que
esses rebeldes obtêm o dinheiro, as armas e os especialistas militares? De onde
é que tudo isto vem? Como é que o famoso ISIL conseguiu tornar-se num grupo tão
poderoso, essencialmente, numa verdadeira força armada?
Quanto às fontes de financiamento, hoje, o dinheiro está a vir não só das
drogas, cuja produção não aumentou apenas alguns pontos percentuais, mas muitas
vezes, desde que as forças da aliança internacional estiveram presentes no
Afeganistão. Vocês estão conscientes disso. Os terroristas também estão a
receber dinheiro da venda de petróleo. O petróleo é produzido em território
controlado pelos terroristas, que vendem a preços de 'dumping' (deflacção),
produzem-no e transportam-no. Mas alguém compra este petróleo, revende-o, e
lucra com isso, não pensa no facto de que, assim, estão a
financiar os terroristas que poderiam vir, mais cedo ou mais tarde, para o seu próprio
solo e semear a destruição nos seus próprios países.
Onde é que eles obtêm novos recrutas? No Iraque, depois de Saddam Hussein
ter sido derrubado, as instituições do Estado, incluindo o Exército, ficaram em
ruínas. Avisámos, nessa época: Sejam muito, muito cuidadosos. Vocês estão a
mandar as pessoas para a rua, e que é que eles vão fazer aí? Não se esqueçam
(com razão ou não) que eles estavam na liderança de uma grande potência
regional, e no que é que vocês a transformaram?
Qual foi o resultado? Dezenas de milhares de soldados, polícias e
ex-militantes do Partido Baath foram para as ruas, e hoje aderiram às fileiras
dos rebeldes. Talvez seja isso que explica por que é que o grupo do Estado
Islâmico se tornou tão eficaz! Em termos
militares, está a agir de forma muito eficaz e tem algumas pessoas
muito profissionais. A Rússia advertiu repetidamente sobre os perigos das
acções militares unilaterais, sobre a intervenção nos assuntos internos dos
estados soberanos, e sobre namoriscar os extremistas e os radicais.
Insistimos em ter grupos de combate do governo sírio central, acima de tudo, o
Estado Islâmico, incluído nas listas de organizações terroristas. Mas vimos
alguns resultados? Recorremos em vão.
Às vezes tenho a impressão de que os nossos colegas e amigos estão
constantemente a lutar contra as consequências das suas próprias políticas, a
jogar todo o seu esforço para enfrentar os riscos que eles mesmos criaram, e a
pagar um preço cada vez maior.
Colegas, este período de domínio unipolar demonstrou de forma convincente
que, ter apenas um centro de poder não torna os processos globais mais fáceis
de gerir. Pelo contrário, esse tipo de construção instável mostrou a sua
incapacidade de lutar contra as ameaças reais, tais como conflitos regionais,
terrorismo, tráfico de drogas, fanatismo religioso, chauvinismo e neo-nazismo.
Ao mesmo tempo, abriu um largo caminho para o orgulho nacional empolado, para a
manipulação da opinião pública e para deixar os fortes intimidarem e suprimirem
os fracos.
Essencialmente, o mundo unipolar é simplesmente um meio de justificar a
ditadura sobre os povos e sobre os países. O mundo unipolar tornou-se muito
desconfortável, pesado e incontrolável, um fardo mesmo para o líder auto-proclamado.
Os comentários a propósito desta linha de pensamento foram feitos aqui
anteriormente e concordo plenamente com eles. Por isso é que vemos tentativas
nesta nova fase histórica, para recriar a aparência de um mundo quase bipolar
como um modelo conveniente para perpetuar a liderança americana. Não importa
quem toma o lugar do centro do mal na propaganda americana, o antigo lugar da
URSS como sendo o adversário principal. Podia ser o Irão, como sendo um país
que pretende adquirir tecnologia nuclear, ou a China, como a maior economia do
mundo, ou a Rússia, como uma superpotência nuclear.
Hoje, estamos a ver novos esforços para fragmentar o mundo, desenhar novas
linhas divisórias, criar coligações não construídas com alguma finalidade, mas
dirigidas contra alguém, contra qualquer um, para criar a imagem de um inimigo,
como foi o caso durante os anos da Guerra Fria, e obter assim o direito a essa
liderança, ou o dictame, se assim desejarem. A situação foi apresentada desta
forma durante a Guerra Fria. Todos compreendemos e sabemos disso. Os Estados
Unidos sempre disseram aos seus aliados: "Temos um inimigo comum, um
inimigo terrível, o centro do mal, e estamos a defender-vos deste inimigo, pois
sois os nossos aliados, pelo que temos o direito de vos dar ordens, de vos
forçar a sacrificar os vossos interesses políticos e económicos e pagar a vossa
parte dos custos por esta defesa colectiva, mas, é claro que seremos as pessoas
encarregadas de tudo isso”. Resumindo, hoje, num mundo novo e em mudança, vemos
tentativas de reproduzir os modelos familiares de gestão global, e tudo isto de
forma a garantir a sua [dos EUA] posição excepcional e colher dividendos
políticos e económicos.
Mas estas tentativas estão cada vez mais divorciadas da realidade e estão
em contradição com a diversidade do mundo. Passos deste tipo criam
inevitavelmente confronto e contra-medidas e têm um efeito oposto aos
objectivos esperados. Vemos o que acontece quando a política começa,
precipitadamente, a intrometer-se na economia, e a lógica das decisões
racionais dá lugar à lógica de confronto, que só vai prejudicar as suas
próprias posições e interesses económicos, incluindo os meios empresariais
nacionais.
Os projectos económicos conjuntos e os investimentos mútuos aproximam
objectivamente os países e ajudam a suavizar os problemas actuais nas relações
entre estados. Mas hoje, a comunidade empresarial mundial enfrenta uma pressão
sem precedentes por parte dos governos ocidentais. De que
negócios, oportunidades económicas e pragmatismo podemos falar,
quando ouvimos palavras de ordem como "a pátria está em perigo",
"o mundo livre está sob ameaça" e "a democracia está em
perigo"? E assim todos precisam mobilizar-se. Isto é como parece, uma
verdadeira política de mobilização.
As sanções já estão a minar as bases do comércio mundial, as regras da OMC =
WTO e o princípio da inviolabilidade da propriedade privada. Elas estão a dar
um golpe no modelo liberal da globalização baseado nos mercados, na liberdade e
na concorrência, que, deixem-me notar, é um modelo que tem beneficiado
precisamente os países ocidentais. E agora correm o risco de perder a confiança
como líderes da globalização. Temos de perguntar a nós próprios: Por que é que
isto era necessário? Afinal, a prosperidade dos Estados Unidos repousa em
grande parte sobre a confiança dos investidores e detentores de dólares e
títulos americanos. Esta confiança está claramente a ser minada e os sinais de
decepção nos frutos da globalização são visíveis agora em muitos países.
O precedente bem conhecido do Chipre e as sanções politicamente motivadas,
apenas reforçaram a tendência para apoiar a soberania económica e financeira, e
os países, ou o desejo que os seus grupos regionais têm "de encontrar
maneiras de se protegerem’ contra os riscos da pressão externa. Vemos que cada
vez há mais países à procura de maneiras de se tornarem menos dependentes do
dólar e estão a estabelecer a criação de sistemas financeiros e de pagamentos
alternativos e moedas de reserva. Penso que os nossos amigos americanos estão
simplesmente a cortar o ramo em que estão sentados. Vocês não podem misturar a
política e a economia, mas isso é o que está a acontecer, neste momento. Pensei
sempre, e hoje continuo a pensar, que as sanções politicamente motivadas foram
um erro que vai prejudicar a todos, mas tenho a certeza de que vamos voltar a
falar deste assunto mais tarde.
Sabemos como essas decisões foram tomadas e quem estava a aplicar a
pressão. Mas deixem-me salientar que a Rússia não vai perder a calma, ficar
ofendida ou mendigar à porta de alguém. A Rússia é um país auto-suficiente.
Vamos trabalhar dentro do ambiente económico externo que tem tomado forma,
vamos desenvolver a produção e tecnologia nacionais e agir com mais
determinação para realizar a transformação. A pressão do exterior, como foi o
caso em ocasiões anteriores, só vai consolidar a nossa sociedade, manter-nos
alerta e fazer que nos concentremos nas principais metas de desenvolvimento.
Claro que as sanções são um obstáculo. Eles estão a tentar prejudicar-nos
através dessas sanções, boqueando o nosso desenvolvimento e a empurrar-nos para
o isolamento político, económico e cultural, ou, por outras palavras, a
forçar-nos para o atraso. Mas deixem-me dizer mais uma vez que, hoje o mundo é
um lugar muito diferente. Não temos nenhuma intenção de nos fecharmos e
escolhermos um caminho de desenvolvimento fechado, tentando viver em
auto-suficiência. Estamos sempre abertos ao diálogo, inclusivamente a
normalizar as nossas relações económicas e políticas. Contamos com a abordagem
pragmática e com a posição das comunidades empresariais dos países líderes.
Hoje, alguns dizem que a Rússia está supostamente a virar as costas à
Europa - provavelmente estas palavras também já foram pronunciadas aqui,
durante as discussões - e está à procura de novos parceiros de negócios,
sobretudo na Ásia. Deixem-me dizer que não é esse o caso, de modo algum. A
nossa política activa na região da Ásia e do Pacífico não começou ontem e não
aconteceu como sendo uma resposta às sanções, mas é uma política que já estamos
a seguir desde há muitos anos. Como muitos outros países, incluindo países
ocidentais, compreendemos que a Ásia está a desempenhar um papel cada vez mais
importante no mundo, na economia e na política e, simplesmente, não há nenhuma
maneira de podermos dar-nos ao luxo de ignorar estes desenvolvimentos.
Deixem-me dizer, mais uma vez, que todo mundo está a fazê-lo, e fá-lo-emos,
sobretudo porque uma grande parte do nosso país está situada geograficamente na
Ásia. Por que motivo é que não devemos fazer uso das nossas vantagens
competitivas nessa área? Não o fazer, seria ter uma visão extremamente
limitada.
O desenvolvimento de laços económicos com esses países e a realização de
projectos de integração conjuntos também cria grandes incentivos para o nosso
desenvolvimento nacional. As tendências demográficas, económicas e culturais de
hoje, sugerem todas que a dependência de uma única super potência irá diminuir
objectivamente. Esse assunto é algo sobre o qual os especialistas europeus e
norte-americanos têm falado e escrito.
Talvez a evolução da política global vá espelhar a evolução que estamos a
ver na economia global, ou seja, a concorrência intensa para segmentos
específicos do mercado e a mudança frequente de líderes em áreas específicas.
Isso é perfeitamente possível.
Não há dúvida de que os factores humanitários, tais como a educação, a
ciência, a saúde e a cultura estão a desempenhar um papel mais importante na
competição global. Também têm um grande impacto nas relações
internacionais, inclusivamente porque este recurso 'soft power' (N.d T.: a
capacidade de alcançar os objectivos sem o uso da força, esp. através da
diplomacia) dependerá, em grande medida, das conquistas reais no
desenvolvimento do capital humano, mais do que em truques de propaganda
sofisticados.
Ao mesmo tempo, a formação de um chamado mundo policêntrico (gostaria,
também, de chamar a vossa atenção para isso, colegas) por si só não melhora a
estabilidade; na verdade, é muito provável que seja o oposto. A meta para
atingir o equilíbrio global está a transformar-se num quebra-cabeças bastante
difícil, uma equação com muitas incógnitas.
Então, o que é que o futuro nos reserva, se não escolhermos viver de acordo
com as regras - mesmo que possam ser rigorosas e pouco práticas – mas sim,
viver sem quaisquer regras? E esse cenário é perfeitamente possível; não
podemos descartá-lo, dadas as tensões na situação global. Já podem ser feitas
muitas previsões, tendo em conta as tendências actuais que, infelizmente, não
são optimistas. Se não criarmos um sistema claro de compromissos e de acordos
mútuos, se não construirmos mecanismos de gestão e resolução de situações de
crise, os sintomas da anarquia global vão crescer inevitavelmente.
Hoje em dia, já vemos um grande aumento na probabilidade de um conjunto de
conflitos violentos com alguma participação directa ou indirecta das grandes
potências do mundo. E os factores de risco incluem não apenas os conflitos
multinacionais tradicionais, mas também a instabilidade interna de diversos
Estados, especialmente quando falamos de países localizados nas intersecções
dos principais interesses geopolíticos dos Estados, ou na fronteira dos
continentes com civilizações culturais, históricas e económicas diferentes.
A Ucrânia, que tenho a certeza ter sido longamente discutida e que vamos
discutir um pouco mais, é um dos exemplo de tais tipos de conflitos que afectam
o equilíbrio do poder internacional, e penso que certamente não será a última.
A partir daqui emana a próxima ameaça real de destruir o actual sistema de
acordos de controlo das armas. E este processo perigoso foi lançado pelos
Estados Unidos da América quando se retirou unilateralmente do Tratado de
Mísseis Anti-Balísticos em 2002, e, em seguida, começou e continua hoje a
prosseguir activamente a criação do seu sistema de defesa global de anti
mísseis.
Colegas, amigos, quero salientar que não fomos nós que começámos. Mais uma
vez, estamos a deslizar para os momentos em que, em vez do equilíbrio de
interesses e de garantias mútuas, é o medo e o equilíbrio da destruição mútua
que impede as nações de se envolverem num conflito directo. Na ausência de
instrumentos jurídicos e políticos, as armas estão, mais uma vez, a tornar-se o
ponto central da agenda global; elas são usadas em qualquer parte e de
qualquer maneira, sem quaisquer sanções do Conselho de Segurança da ONU. E se o
Conselho de Segurança se recusa a elaborar essas decisões, então deve ser
declarado imediatamente como um instrumento ultrapassado e ineficaz.
Muitos estados não vêem qualquer outra maneira de garantir a sua soberania,
senão obtendo as suas próprias bombas. Isto é extremamente perigoso. Insistimos
em conversações contínuas; não somos apenas a favor das negociações, mas
insistimos em continuar as negociações para reduzir os arsenais nucleares.
Quanto menos armas nucleares houver no mundo, melhor. E estamos prontos para
conversações mais sérias e concretas sobre o desarmamento nuclear - mas apenas
conversações sérias, sem favorecer uns, em detrimento dos outros.
O que é que quero significar? Hoje, muitos tipos de armamento de alta
precisão estão já perto das armas de destruição em massa em termos das suas
capacidades, e em caso de renúncia total das armas nucleares ou redução radical
do potencial nuclear, as nações que são líderes em criar e produzir sistemas de
alta precisão, terão uma vantagem militar nítida. A paridade estratégica será
interrompida, e é susceptível de provocar a desestabilização. Pode tornar-se
tentador usar o primeiro ataque preventivo global. Em suma, os riscos não
diminuem, mas intensificam-se.
A próxima ameaça óbvia é a nova escalada de conflitos étnicos, religiosos e
sociais. Tais conflitos são perigosos não só em si, mas também porque criam
zonas de anarquia, ausência de leis e caos em torno deles, lugares que são
confortáveis para os terroristas e criminosos, onde a pirataria, o tráfico
humano, o tráfico de drogas floresce.
Aliás, neste momento, os nossos colegas tentaram, até certo ponto, gerir de
alguma forma esses processos, utilizam os conflitos regionais e elaboram
'revoluções coloridas', de acordo com os seus interesses, mas o génio escapou
da garrafa. Parece que os pais da teoria do caos controlado não sabem o que
fazer com isso; há desordem nas suas fileiras.
Acompanhamos de perto as discussões, quer da elite dominante, quer da
comunidade de especialistas. É suficiente ver os cabeçalhos/manchetes da
imprensa ocidental ao longo do último ano. As mesmas pessoas são designadas
como combatentes pela democracia e, em seguida, como islamitas; primeiro,
escrevem sobre revoluções e, em seguida, apelidam-nas como tumultos e
convulsões. O resultado é óbvio: a expansão do caos global.
Colegas, dada a situação global, é hora de começar a chegar a acordo sobre
as questões fundamentais. É extremamente importante e necessário; é muito
melhor do que voltar para os nossos próprios cantos. Quanto mais enfrentarmos
os nossos problemas comuns, mais nos encontramos no mesmo barco, por assim
dizer. E a saída lógica é a cooperação entre as nações, as sociedades, para
encontrar respostas colectivas para desafios cada vez maiores, e para a gestão
do risco comum. Admitindo que é verdade, alguns dos nossos parceiros, por algum
motivo, lembram-se disso só quando convém aos seus interesses.
A experiência prática mostra que as respostas conjuntas aos desafios nem
sempre são uma panaceia; e precisamos compreendê-lo. Além do mais, na maioria
dos casos, são de difícil acesso; não é fácil superar as diferenças dos
interesses nacionais, a subjectividade das diversas abordagens, principalmente
quando se trata de países com tradições culturais e históricas diferentes. Mas,
no entanto, temos exemplos em que, tendo objectivos comuns e agindo com base
nos mesmos critérios, juntos, alcançamos um êxito real.
Deixem-me recordar-vos como resolver o problema das armas químicas na
Síria, e o diálogo substantivo sobre o programa nuclear iraniano, bem como o
nosso trabalho sobre as questões da Coreia do Norte, que também tem alguns
resultados positivos. Por que não podemos usar essa experiência no futuro para
resolver os desafios locais e globais?
O que é que poderia ser a base jurídica, política e económica para uma nova
ordem mundial que permitisse a estabilidade e a segurança, sem deixar de incentivar
a competição saudável, não permitindo a formação de novos monopólios que
dificultam o desenvolvimento? É improvável que agora, alguém possa fornecer
soluções absolutamente exaustivas e acabadas de fazer. Vamos precisar de um
trabalho extenso com a participação de uma ampla gama de governos, de empresas
globais, da sociedade civil e de plataformas de peritos, como a
nossa.
No entanto, é óbvio que o sucesso e os resultados reais só são possíveis se
os participantes-chave nos assuntos internacionais puderem concordar em
harmonizar os interesses básicos, sobre a auto-contenção razoável, e dar o
exemplo de uma liderança positiva e responsável. Temos de identificar
claramente onde terminam as acções unilaterais. Precisamos de aplicar
mecanismos multilaterais, como fazendo parte da melhoria da eficácia do direito
internacional. Temos de resolver o dilema entre as acções da comunidade
internacional para garantir a segurança e os direitos humanos, bem como o
princípio da soberania nacional e de não-ingerência nos assuntos internos de
qualquer estado.
Essas mesmas colisões conduzem, cada vez mais, à interferência externa
arbitrária em processos internos complexos e, por vezes, provocam conflitos
perigosos entre os líderes globais em acção. A questão da manutenção da
soberania torna-se quase primordial para manter e reforçar a estabilidade
global.
Claro que é extremamente difícil discutir os critérios sobre o uso da força
externa; é praticamente impossível separá-los dos interesses de determinados
países. No entanto, é muito mais perigoso quando não há acordos que sejam
claros para todos, quando condições que não são objectivas e compreensíveis,
são definidas como uma interferência necessária e legal.
Acrescentarei que as relações internacionais devem ser baseadas no direito
internacional, que deve repousar em princípios morais, como a justiça, a
igualdade e a verdade. Talvez o mais importante seja o respeito pelos sócios e
pelos seus interesses. Esta é uma fórmula óbvia, mas segui-la, poderia mudar
radicalmente a situação global.
Estou certo de que, se houver vontade, podemos restaurar a eficácia do
sistema de instituições regionais e internacionais. Nem sequer precisamos de
construir algo novo, a partir do zero; este assunto não é "terra
virgem", especialmente, pelo facto de as instituições criadas após a
Segunda Guerra Mundial serem bastante universais e podemos dar-lhes substância
moderna, adequada para gerir a situação actual.
Isto é verdade para melhorar o trabalho da ONU, cujo papel central é
insubstituível, assim como a OSCE (N.T.:
Organização para a Segurança e Cooperação na Europa), que, ao longo de 40 anos,
provou ser um mecanismo necessário para garantir a segurança e a cooperação na
região euro-atlântica. Devo dizer que, mesmo agora, na tentativa de resolver a
crise na Ucrânia sudeste, a OSCE está a desempenhar um papel muito positivo.
À luz das mudanças fundamentais no ambiente internacional, do aumento da
falta de controlo e de várias ameaças, precisamos de um novo consenso global de
forças responsáveis. Não se trata de alguns acordos locais ou de uma divisão
de esferas de influência no espírito da diplomacia clássica, ou do domínio
global completo de alguém. Penso que precisamos de uma nova versão de
interdependência. Não devemos ter medo dela. Pelo contrário, é um bom
instrumento para harmonizar posições.
Esta sugestão é particularmente relevante, dado o fortalecimento e
crescimento de determinadas regiões do planeta, cujo processo requer
objectivamente a institucionalização desses novos pólos, criando organizações
regionais poderosas e o desenvolvimento de regras para a sua interacção. A
cooperação entre esses centros adicionaria visivelmente a estabilidade da
segurança global, política e económica. Mas, a fim de estabelecer esse diálogo,
é preciso proceder a partir do pressuposto de que todos os centros regionais e
projectos de integração que se formam à volta deles, precisam de ter direitos
iguais para o desenvolvimento, de modo a poderem complementar-se mutuamente e
ninguém poder forçá-los a entrar, artificialmente, em conflito ou em oposição.
Tais acções destrutivas iriam quebrar os laços entre os Estados, e os próprios
Estados seriam submetidos a dificuldades extremas, ou talvez até mesmo à
destruição total.
Gostaria de recordar os acontecimentos do ano passado. Dissemos aos nossos
parceiros americanos e europeus que, por exemplo, as decisões precipitadas nos
bastidores sobre a associação da Ucrânia com a União Europeia, estavam repletas
de riscos graves para a economia. Nem sequer referimos algo sobre a política;
falámos apenas sobre a economia, dizendo que tais passos, feitos sem quaisquer
acordos prévios, tocam nos interesses de muitos outros países, incluindo a
Rússia, como o principal parceiro comercial da Ucrânia, e que é necessária uma
ampla discussão das questões. Aliás, a este respeito, vou recordar-vos que, por
exemplo, as negociações sobre a adesão da Rússia à OMC (N.T.: Organização Mundial do Comércio) duraram 19 anos. Foi um
trabalho muito difícil, mas foi alcançado um certo consenso.
Por que é que estou a trazer isto à baila? Porque na implementação do
projecto de associação da Ucrânia, os nossos parceiros chegariam até nós com os
seus produtos e serviços através da porta traseira, por assim dizer, e não
concordamos com isso - ninguém nos questionou sobre esse assunto.
Tivemos conversações sobre todos os temas relacionados com a associação da
Ucrânia à União Europeia, discussões persistentes, mas quero salientar que isso
foi feito de uma forma totalmente civilizada, indicando possíveis problemas,
mostrando o raciocínio e os argumentos óbvios. Ninguém queria ouvir-nos e
ninguém queria falar. Disseram-nos, simplesmente: isso não é da vossa conta.
Ponto final. Fim da discussão. Em vez de um diálogo abrangente, mas - insisto -
civilizado, tudo se resumia ao derrube do governo, que mergulhou o país no
caos, num colapso económico e social, numa guerra civil com enormes baixas.
Porquê? Quando pergunto aos meus colegas o motivo, eles já não têm uma
resposta; ninguém diz nada. É isso mesmo. Todos estão a perder, dizendo que se
tornou dessa forma. Essas acções não deveriam ter sido incentivadas - não
teriam funcionado. Afinal (já falei sobre isso), o ex-presidente ucraniano
Yanukovych assinou tudo, concordou com tudo. Por que fez isso? Qual foi o
objectivo? O que é isso? Uma forma civilizada de resolver os problemas? Aparentemente,
os que jogam juntos constantemente novas "revoluções coloridas,"
consideram-se "artistas brilhantes” e, simplesmente, não podem parar.
Estou certo de que o trabalho das associações integradas, da cooperação das
estruturas regionais, deve ser construído sobre uma base clara e transparente;
o processo de formação da União Económica da Eurásia é um bom exemplo desse
tipo de transparência. Os Estados que fazem parte deste projecto informaram os
parceiros dos seus planos com antecedência, especificando os parâmetros da
nossa associação, os princípios do seu trabalho, que correspondem plenamente às
regras da Organização Mundial do Comércio.
Vou acrescentar que também teria dado as boas vindas ao início de um
diálogo concreto entre a União Económica da Eurásia e a União Europeia. Aliás,
eles também nos recusaram quase completamente, e também não está claro o motivo
da recusa - o que há de tão assustador sobre este assunto?
E, claro, com esse trabalho conjunto, poderíamos pensar que precisamos de
estabelecer um diálogo (falei sobre este assunto, muitas vezes e escutei o
acordo de muitos dos nossos parceiros ocidentais, pelo menos na Europa) sobre a
necessidade de criar um espaço comum para a cooperação económica e humanitária
que se estende desde o Atlântico até ao Oceano Pacífico.
Colegas, a Rússia fez a sua escolha. As nossas prioridades são melhorar
ainda mais as nossas instituições democráticas e instituições de economia
aberta, desenvolvimento interno acelerado, tendo em conta todas as tendências
modernas positivas no mundo, e a consolidação da sociedade baseada em valores
tradicionais e patriotismo.
Temos uma agenda positiva e pacífica orientada para a integração; estamos a
trabalhar activamente com os nossos colegas da União Económica da Eurásia, da
Organização de Cooperação de Xangai, do BRICS e com outros parceiros. Esta
agenda visa o desenvolvimento de laços entre os governos, não a dissociação.
Não estamos a planear para remendar quaisquer blocos, ou para nos envolvermos
numa troca de golpes.
Os argumentos e as declarações de que a Rússia está a tentar estabelecer
algum tipo de império, invadindo a soberania dos seus vizinhos, são infundadas.
A Rússia não precisa de nenhum tipo de lugar especial e exclusivo, no mundo -
quero salientar este ponto. Embora respeitemos os interesses dos outros,
queremos, simplesmente, que os nossos próprios interesses sejam tidos em conta
e que a nossa posição seja respeitada.
Estamos bem conscientes de que o mundo entrou numa era de mudanças e
transformações globais, em que todos nós precisamos de um determinado grau de
cautela, de capacidade de evitar medidas não pensadas. Nos anos após a Guerra
Fria, os participantes na política mundial perderam um pouco dessas qualidades.
Agora, precisamos de recordá-las. Caso contrário, a esperança de um
desenvolvimento pacífico e estável, será uma ilusão perigosa, enquanto o
tumulto de hoje vai servir simplesmente como um prelúdio para o colapso da
ordem mundial.
Sim, claro, já disse que a construção de uma ordem mundial mais estável é
uma tarefa árdua. Estamos a falar de um trabalho longo e difícil. Fomos capazes
de desenvolver regras para a interacção depois da Segunda Guerra Mundial, e
fomos capazes de chegar a um acordo em Helsínquia, em 1970. O nosso dever comum
é resolver este desafio fundamental, nesta nova fase de desenvolvimento.
Muito obrigado pela vossa atenção.
Tradutora: Maria Luísa de Vasconcellos
Revisão: Maria Alpinda
Revisão: Maria Alpinda
Email: luisavasconcellos2012@gmail.com
webpage: http://peacelovelove.blogspot.pt/
No comments:
Post a Comment