Para ver os incêndios em todo o planeta, via satélite, clicar em https://firms.modaps.eosdis.nasa.gov/map/#z:3;c:0.0,0.0;d:2019-09-01..2019-09-02
A
Arte da Guerra
Amazónia, os incendiários gritam: 'Há fogo!'
Perante a propagação dos incêndios na
Amazónia, a Cimeira do G7 mudou a sua agenda para ‘enfrentar a emergência’. Os
Sete - França, Alemanha, Grã-Bretanha, Itália, Japão, Canadá e Estados Unidos -
assumiram, juntamente com a União Europeia, o papel de Corpo de Bombeiros
planetário.
O Presidente Macron, como bombeiro
chefe, lançou o alarme “a nossa casa está a arder”. O Presidente Trump prometeu
o máximo empenho dos EUA no trabalho de extinção.
Os holofotes da comunicação mediática
concentram-se nos incêndios no Brasil, deixando todo o resto na sombra.
Primeiro de tudo, o facto de que está a ser destruída não só a floresta amazónica
(dois terços da área são do Brasil), reduzida quase 10 mil km2 por ano em
2010-2015, mas também a floresta tropical da África equatorial e a floresta
meridional e oriental da Ásia. As florestas tropicais perderam, em média, a
cada ano, uma área equivalente à área total do Piemonte, Lombardia e Veneto.
Embora as condições sejam diferentes de
área para área, a causa fundamental é a mesma: a exploração intensiva e destrutiva dos recursos naturais para obter
o máximo lucro.
Na Amazónia, abatem-se árvores para
obter madeira valiosa destinada à exportação. A floresta residual é queimada
para usar essas áreas para culturas e agricultura intensiva também destinadas à
exportação. Esses terrenos muito frágeis, uma vez degradados, são abandonados
e, portanto, são desarborizadas novas áreas. O mesmo método destrutivo é adoptado,
provocando graves danos ambientais, para explorar os depósitos amazónicos de
ouro, diamantes, bauxite, zinco, manganês, ferro, petróleo e carvão. Também
contribui para a destruição da floresta amazónica, a construção de enormes
bacias hidroeléctricas, destinadas a fornecer energia para as actividades
industriais,
A exploração
intensiva e destrutiva da Amazónia é praticada por empresas brasileiras,
fundamentalmente controladas - por meio de participações, mecanismos
financeiros e redes comerciais - pelos principais grupos multinacionais e
financeiros do G7 e de outros países.
Ø Por exemplo, a JBS, proprietária
de 35 fábricas de processamento de carne no Brasil, onde 80 mil bovinos são abatidos por dia, possui filiais importantes nos
EUA, Canadá e Austrália e é amplamente controlada através de parcelas de dívida
dos credores: JP Morgan (EUA), Barclays (GB) e os grupos financeiros da
Volkswagen e da Daimler (Alemanha).
Ø A Marfrig, em segundo lugar
depois da JBS, pertence 93% a investidores americanos, franceses, italianos e
outros investidores europeus e norte-americanos.
Ø A Noruega, que hoje ameaça
retaliação económica contra o Brasil pela destruição da Amazónia, provoca na mesma
Amazónia, graves danos ambientais e sanitários através do seu grupo
multinacional Hydro (metade do qual é propriedade do Estado norueguês), que
explora as jazidas de bauxite para a produção de alumínio, tanto que foi colocado
sob investigação no Brasil.
Os governos do G7
e outros, que hoje criticam formalmente o Presidente brasileiro Bolsonaro, para
limpar a consciência perante a reacção do público, são os mesmos que
favoreceram a sua ascensão ao poder, para que as suas multinacionais e os seus
grupos financeiros tivessem as mãos ainda mais livres, na exploração da Amazónia.
A ser atacadas
estão, sobretudo, as comunidades indígenas, em cujos territórios se concentram as
actividades de desflorestação ilegal. Sob os olhos de Tereza Cristina, Ministra
da Agricultura de Bolsonaro, cuja família de latifundiários, tem uma longa
história de ocupação fraudulenta e violenta, das terras das comunidades
indígenas.
il manifesto, 3 de Setembro de 2019
Manlio Dinucci
Geógrafo e geopolitólogo. Livros mais recentes: Laboratorio di geografia, Zanichelli 2014 ; Diario di viaggio, Zanichelli 2017 ; L’arte della guerra / Annali della strategia Usa/Nato 1990-2016, Zambon 2016, Guerra Nucleare. Il Giorno Prima 2017; Diario di guerra Asterios Editores 2018; Premio internazionale per l'analisi geostrategica assegnato il 7 giugno 2019 dal Club dei giornalisti del Messico, A.C.
Tradutora: Maria
Luísa de Vasconcellos
Email: luisavasconcellos2012@gmail.com
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